quinta-feira, 8 de março de 2012

JOAQUIM SILVÉRIO, O SOLITÁRIO




                No canto direito da praia da Fortaleza, no tempo da minha meninice, conheci e convivi com Joaquim Silvino, um homem dividido entre a roça e o mar, sobretudo depois de se separar da Rosa, filha do Estevão Marcolino. Ninguém daquele tempo há de ter se esquecido da jaqueira na beira do caminho, ao lado da casa dele, a espalhar o cheiro doce até o jundu.

                Bem cedo o dia clareava já mostrando o solitário caiçara em sua canoa, de traquete armado, indo à pescaria. O retorno ocorria sempre pela metade do dia. Não tinha como confundir a sua embarcação. As nossas atenções se voltavam para o pano enfunado pelo vento. O sol se responsabilizava pela alvura impressionante!

                Depois do almoço e do sono sagrado de quase duas horas, era o momento de ir à roça. É preciso lembrar que, naquele tempo, o básico vinha do mandiocal e do bananal? Essa mesma rotina se repetia a todas as famílias que habitavam o litoral norte do Estado de São Paulo e sul fluminense.

                O Joaquim prezava por demais as letras! A sua maior relíquia, guardada com grande carinho e ciúme, era a cartilha com a qual foi alfabetizado. No dia em que um dos filhos folheou o estimado livro com as mãos sujas de barro, ele aplicou-lhe uma surra que até revoltou os vizinhos: “Onde se viu dar tamanha coça no menino só por causa de um livro velho!”.

                Por fim, eu adorava escutar as suas conversas porque bem cedo percebi que esse primo do vovô Armiro era homem afeito às coisas do mar, mas muito mais que os outros.

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