Tia Astrogilda e tio Silvário - Arquivo: Os caiçaras contam |
Olha a turminha e o Ângelo no cavaquinho - Arquivo Mana Ana |
Domingo chuvoso, final de julho. Mandei
mensagem para a minha irmã: “Tá em casa?”.
“Tô”. “Então vou aí daqui a pouco”. “Pode
vir, mas vai ter festa julhina na rua, já estão montando barraca. Vai ser
preciso deixar o carro antes, vir a pé até em casa”. E assim fomos (eu as minhas queridas Gal
e Maria Eugênia) para uma visita, uma prosa de fim de domingo.
Assim que descemos do carro, de um portão
ali perto saiu um menino já vestido à caráter, de caipirinha. Não teve como eu
não elogiá-lo. “Que lindo!”. Ele prontamente agradeceu todo alegre e
animado. Na calçada da minha irmã já estava montada uma barraca, onde uma
menina ajeitava algumas coisas. Aquele menino foi para o outro lado, na calçada
oposta, com brinquedos e varas, revelando que ali seria a barraca da pescaria.
Notei que as prendas tinham jeito de ser os próprios brinquedos do menino
lindo. A minha Gal comentou: “Depois,
quem pescar devolve para o dono os prêmios. Deve ser assim, né?”.
A mana Ana nos esperava no portão, foi logo
dizendo que aquele menino era o Ângelo, neto do Wilson, meu colega de escola
primária, no Perequê-mirim. Depois toda a família se mudou para a cidade de
Santos. Era a primeira metade da década de 1970. Somos parentes: tia
Astrogilda, a mãe do Wilson, bisavó do menino Ângelo, “era filha do tio Anastácio”, segundo disse o meu finado pai.
Gente da praia do Pulso. Tio Silvário, “filho
do finado Estevão, morava no sertão da
Caçandoca, mas nasceu no Saco das Bananas”. Papai nasceu e morou perto dele, onde era a posse do meu bisavô
Francisco Félix, casado com Anna da Conceição. Caçandoqueiros, meus ascendentes, minhas
raízes. Então comentei com a mana Ana: “Será
que o nome do Ângelo foi dado em homenagem ao Anjinho?”. “Creio que sim”. Ela
concordou com a minha dedução.
Anjinho era o nosso amigo da infância na praia
da Fortaleza. Ângelo era o nome dele, filho da Rosa (irmã do tio Silvário) e do
Angelino Roseno, da praia Grande do Bonete. Naquela época o casal já estava separado. Mais
tarde mãe e filho também foram morar na praia do Perequê-mirim. Ou seja, nos
reencontramos e convivemos outros momentos. Para encurtar a história, com o
apoio da comerciante Zenaide, Anjinho se equilibrou na vida e terminou se
casando com a nossa colega Izabel, filha da Maria e do Odócio, gente-raiz do
Ubatumirim, mas habitantes da Pedra Branca, na Enseada. Prole numerosa. O
triste vem agora: há uns dez anos,
quando podava uma jaqueira perto da sua casa, o nosso estimado Anjinho
foi acidentado, massacrado pelo peso de um galho. Não teve jeito de sobreviver.
Vida longa e feliz ao menino Ângelo que agitou a festa julhina na rua Ponciano Eugênio Duarte e certamente dormiu muito feliz!
Viva nossas raízes culturais!
Parabéns a essa geração novíssima de caiçarinhas!
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Mensagem reenviada pela mana Ana no dia da publicação:
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