Homens-árvores - Arte: Estevan |
“O Brasil
está cheio de histórias de lobisomem”. Quem repetia esta frase era o finado
Brasiliano. Então eu brincava assim: “Quer
dizer que Brasiliano também pode ser lobisomem?”. E o bom velhinho dava
aquela gostosa gargalhada antes de começar um bom causo. Faz tempo isso? Ah,
faz! Eu era adolescente, trabalhava no Bar Orly, do Severino, no Perequê-mirim.
História de lobisomem é coisa muito
antiga mesmo! Os pesquisadores escreveram que, na Roma antiga, existia, no mês de
fevereiro, derivada de mito mais antigo ainda, a tradição religiosa dos Lupercália (voltada aos
lobos), uma festa de origem agrária que depois, apossada pelos ricos, foi
oficializada como momento de purificação para o ano novo (que começava em
março). Os sacerdotes (lupercos = irmãos do lobo) eram eleitos anualmente entre
os patrícios mais ilustres da cidade. Bodes e cachorros eram sacrificados,
depois os sacerdotes arrancavam tiras desses coitados, vestiam-se com o couro e
saiam em torno da local para chicotear o povo, sobretudo as mulheres inférteis. Era uma
forma de religião. No ano 494, o imperador Gelásio a proibiu, mudando-lhe a
feição para a solenidade cristã da Festa da Purificação. Mas a base mítica de
homens virando lobos de quando em quando, sob influência da Lua Cheia, continua
fazendo sucesso até ao advento da iluminação pública dos nossos espaços. Quem, em
Ubatuba, nunca ouviu história de lobisomem que precisa correr sete praias?
A introdução acima foi só para indicar a
direção da história de hoje, do tempo de uma Picinguaba bem pacata, uma praia
maravilhosa de Ubatuba, sem iluminação elétrica. Quem contou foi a avó da Maytê.
Esta nos recontou:
Há
muitos anos, quando nem estrada havia até a cidade, um fato ocorreu com a minha
avó Aparecida. Ela me contava de uma noite estrelada, bonita demais, como de
costume ela resolveu sentar diante do mar para apreciar a beleza da natureza.
Ela morava na praia da Picinguaba com meu avô e dois filhos.
Estava ela lá sentada quando de repente avistou um cachorro correndo em
sua direção. Só que não era um simples cachorro. Quando ela percebeu, o
cachorro foi se transformando em um lobisomem. Na hora ela se levantou e saiu
correndo para a sua casa. Entrou desabalada, foi trancando portas e janelas.
Meu avô perguntou o que tinha acontecido e ela contou tudo o que tinha
acontecido, mas ele não acreditou porque abriu a porta e não viu nada lá fora.
Até hoje a minha avó jura que viu mesmo um lobisomem. Eu acredito nela.
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