O escritor Malba Tahan conta que o saudoso professor Tales Melo, um
grande matemático brasileiro, ao visitar o Ginásio de Friburgo, teve ocasião de
palestrar com vários alunos. Em dado momento um adolescente, em tom muito
sério, perguntou:
- Que idade o senhor tinha, Dr.
Tales, quando descobriu esse teorema que tem o seu nome: Teorema de Tales?
A introdução acima foi só para entender o que contarei agora: no meu segundo ano escolar, na Escola Agrupada do Perequê-mirim, no tempo em que sentávamos em duplas naquelas carteiras de ferro e madeira maciça com um buraco para tinteiro no meio do tampão, tendo a professora Valda como mestra enérgica, o meu colega de assento era o Joãozinho Góis que adorava conversar. Era muito espirituoso, estava sempre soltando suas gracinhas. Em decorrência disso, num dia eu levei o pior. Foi assim:
A professora era brava, “descia
o braço” quando alguém nem extrapolava os limites da disciplina. Numa manhã, logo
após a volta do recreio, estando a professora escrevendo a atividade na lousa, o danado tascou:
- Professora, a minha mãe
comprou um remédio da senhora.
- Meu remédio? A sua mãe
comprou? Como assim? Eu não tenho remédio nenhum para vender!
- Ah é! Então amanhã eu trarei a
latinha como prova, onde se lê Pastilhas Valda. É mentira minha?
No mesmo instante, estando perto de nós e não se conformando pela intromissão no roteiro da aula, enquanto todo mundo ria alto, ela partiu para dar um tapa no abusado. Porém, o danado abaixou a cabeça, se desviou. Adivinha quem recebeu o tapa com muita força? Eu! Afinal, era eu quem formava dupla com ele. Só que, ao contrário do filho do Seo Dito e da Dona Preciosa, eu era bem quieto durante as aulas. Ela se desculpou comigo e em seguida, aí sim, se voltou para o Joãozinho sem ter como errar pela segunda vez.
Em tempo em que a profissão de
professor está tão desprezada pelo Estado (e por alguns pais e alunos!), quero homenagear os meus primeiros
mestres: Olga Gil, Valda Virgílio, Pedro Eurico, Oberdan e Osmildo Meireles. Faz tempo isso, quando tínhamos aula até no sábado! Foi ali, nos poucos livros disponíveis na escola, que eu cultivei o gosto pela leitura, que fui me fazendo pelas palavras. É impressionante como elas nos ajudam a cada instante, sobretudo quando somos trabalhadores numa sala de aula! Só tenho a agradecer ao Jessé, Telma e toda moçada que me fortalece após esses reencontros e esses anos todos.
Em tempo: aquela frase lida
naquele tempo, quando tínhamos aula de leitura aos sábados, não me saiu da
memória:
“No Japão todos creem firmemente que sem professor não há imperador”.
No Brasil, há idiotas que creem que professor é pior do que traficante.
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