sexta-feira, 21 de julho de 2023

QUEM ME CONTOU FOI... (V)

 


Arte: Estevan

      Hoje a contação de causo está a cargo do estimado Jovelino, caiçara da Ponta Grossa do Farol. Dias desses nos encontramos (eu, ele e o Elizeu) diante de uma farmácia e a prosa durou um longo tempo. Adoro esses momentos!

 


    Bom, a história que vou narrar é verídica, aconteceu comigo quando tinha nove anos. Morávamos na Ponta Grossa e eu estudava no Itaguá. Saía muito cedo de casa devido a boa caminhada até a escola. O sinal de entrada batia às 7:30 horas para começar a aula, ia até 12:00 horas. Como o caminho era longo, eu chegava em casa por volta das 13:30 horas azul de fome e cansado.

   Certa vez, eu lembro bem, as aulas terminaram mais cedo, por volta das 11:30 horas. Fiquei trêmulo porque eu sabia que teria de passar pelo Caminho do Cego às 12:00 horas. Minha mãe contava umas histórias desagradáveis desse lugar sombrio e silencioso, onde se tinha a impressão que alguma coisa observava a gente quando se transitava por ali. Por isso peguei o material escolar meio sem pressa.

  O caminho parecia interminável. Eu, já azul de fome, apressei o passo e comecei a subir o morro da Praia Vermelha. Sabia que em pouco tempo estaria em casa. Passei a primeira curva, ouvi um barulho que vinha do meio do mato, parei para observar. “Nossa, que lindo! Dois cavalos brancos? Será que fugiram de alguém?”. Eles eram brancos na primeira vez que vi, olhos fixos não deixando tomar atenção em mais detalhes. Aos poucos deixei me levar pela visão e me distraí. Quando tornei a olhar, vi que os dois tinham asas. “Que legal!”. O que estariam fazendo ali? Segui em frente, logo parei para dar uma última olhada. “Êpa! Cadê eles?”. Fiquei arrepiado dos pés à cabeça, comecei a correr até a minha casa. Lá chegando, a minha mãe perguntou:

    - O que aconteceu meu filho?

    - Espera eu tomar fôlego que eu falo. Eu vi dois cavalos brancos de asas no Caminho do Cego, mãe.

    - Que nada, filho! É coisa da sua cabeça, isso passa.

    Atualmente, depois de tanto tempo, quando passo por lá acabo me lembrando desse acontecido. Até hoje ainda aquele lugar me assusta.


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