Paraty artesanato (Arquivo JRS) |
“Abram seus comércios, não se importem com os mortos. O que vale é não
deixar a economia parar”. Era frase dos ricos, dos comerciantes, no começo
da pandemia. Agora até pobre está
repetindo isto. O miserável que fundeia saco de ostras na costeira para o dia
seguinte também anda a dizer coisas do gênero.
É tempo de pandemia, mas pouco
importa a vida dos trabalhadores. “Temos
um enorme exército de reserva de
trabalhadores!”. Os mais endinheirados já sabem que estão fora de perigo,
têm vagas intocáveis em bons hospitais, podem se resguardar da massa. E desejam
continuar assim, longe do povo! As notícias desses estabelecimentos é que há
leitos à vontade. Por isso dizem que “até
as escolas podem voltar à normalidade”.
Há gestores, desconfio eu, que
defendem os interesses mesquinhos da elite e de governantes que assinam sem
nenhum pudor essa política de morte, porque almejam migalhas a mais em seus proventos. Será que serão recompensados por isso (de
apoiarem a necropolítica, de pressionarem colegas que estão no mesmo mar, em
embarcações soltando tábuas ainda em água rasa, enquanto os navios da classe dominante nem sentem
as grandes ondas, os vagalhões oceânicos)? A verdade é uma: estamos longe de
garantias para enfrentar o vírus do momento. Foram as omissões do
governante-mor que resultaram nesse número absurdo de mortes. Alguém duvida? Ciência
negada em prol do lucro de alguns grupos, de uma minoria privilegiada. Pouco
importa as vidas dessa gente, desses pobres. “Danem-se essas famílias esfrangalhadas”, afirmam. “Nós precisamos ganhar dinheiro e curtir a
vida!”.
Tudo o que estamos passando
agora, faz-me lembrar de séculos atrás, quando o tráfico de escravos garantia
os lucros de uma elite, lançava as bases das nações modernas e do nosso país:
“A
Companhia das Índias, que tinha o monopólio do tráfico na França no começo do
século XVIII, oferecia um bônus aos capitães de navios que conseguissem reduzir
as taxas de mortalidade. O prêmio era oferecido em escala: seis libras por escravo
caso o índice de mortos fosse inferior a 5% sobre o total de embarcados; três
se ficasse abaixo de 10%; duas se chegasse até 15%; e uma libra para perdas de
no máximo 20%. Isso significa que, mesmo nas viagens em que morresse um quinto
da carga, ainda assim o negócio seria lucrativo a ponto de o capitão receber um
prêmio pelo sucesso da travessia”. É o que nos conta o historiador
Laurentino Gomes.
Termino com frase atribuído a
Che Guevara: “Triste não é amar sem ser
amado. Triste é defender o capitalismo sendo do proletariado”.
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