sexta-feira, 14 de agosto de 2020

AINDA ENXERGO FOLHAS BRILHANDO

Grande do Bonete (Arquivo JRS)

Quintal nosso (Arquivo JRS)

         Bonitas imagens estão por todo lado! Geralmente a gente repara mais quando o Sol domina  a paisagem, mas hoje eu quero recordar de folhas brilhantes, molhadas por chuva,  orvalho, serração... Quero lembrar de água, de crianças pulando de barrancos de rios, de caiçaras mergulhando para tirar ostras e outras iguarias que o nosso meio ambiente oferece.


                Em meus caminhos, a água sempre foi fartura, exceto quando passei um tempo em Crateús, no Ceará. Foram dias medonhos, com um grande rio resumido em poças com girinos. O subsolo tinha água salobra, apenas usada para lavar roupas. Olhando das bocas das cacimbas, bem longe se enxergava um brilho. Com uma lata de 18 litros com água, três pessoas tomavam banho. Água potável aos pobres dependia de um sargento do Exército que controlava um chafariz diante do quartel. De vez em quando ele decidia ficar ali apenas meio período. Quem se danava era o povo pobre.  Naqueles momentos eu me lembrava das fragatas da Marinha brasileira, recém-chegadas da Inglaterra, pois cada uma delas possuía um aparelho para dessalinização, mas aquelas comunidades paupérrimas nem sonhavam com tal recurso. Água é vida!

                                Muito ainda continuam afirmando que, após a pandemia, as coisas serão diferentes, com pessoas mais solidárias, querendo mais justiça, sendo menos gananciosas etc. Mas...expressivo mesmo, nessa direção, vejo apenas as distribuições do movimento dos trabalhadores sem-terra (MST). Porém, tenho passado dias ruins, assistindo as investidas daqueles que cobiçam terra somente para especulação imobiliária ou monocultura à base de venenos. Agora estou em comunhão com os assentados do acampamento Quilombo Campo Grande, no sul de Minas Gerais. 450 famílias estão sob pressão e opressão das forças policiais do Estado,  das forças do ódio que se apossaram do governo do Brasil. Quem sustenta tudo isso? Os trabalhadores! Quantos vivem maravilhosamente bem às custas de quem trabalha? Um por cento! Quem paga os altíssimos salários desses que controlam a situação, desses algozes? Nós que trabalhamos!

                Novamente me vêm imagens de tranquilidade, de folhas molhadas, de águas brotando e correndo límpidas.  Neste momento, remexendo na memória, tenho a imagem do saudoso caiçara Dito Coimbra, morando sozinho no lugar do Perequê-mirim chamado de Sertãozinho, onde mora hoje a minha colega Kátia. Na porta da cozinha dele, um água permanente sustentava uma plantação de agrião, couve, alface, tomate... A  cada dia ele juntava alguns produtos na cesta de taquara e saía para negociar com os demais moradores do lugar. Quando passávamos por ali, ele sempre nos oferecia algo para comer e nos abençoava na despedida. Éramos nós vivendo naquele espaço.

                 Mais tarde vi que, fora dali, era tempo de dureza... Tempo de opressão...

                 Gostaria de dizer que isso era nós, mas não consigo. Isso continua sendo nós!

2 comentários:

  1. Como sou felizarda por tudo isso meu amado amigo ... espero poder compartilhar de tanta sabedoria por muitos anos... seus filhos , sua esposa são privilegiados pela companhia agradável um do outro.
    Gratidao

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