Prainha do Doca, entre as praias Dura e Vermelha (Arquivo JRS) |
Herança dos antigos (Arquivo JRS) |
É costume meu, sobretudo quando
estou nas minhas caminhadas, prestar mais atenção nas coisas. No meio do mato,
então, reparo ainda mais em tudo! Tem detalhes interessantes nesses caminhos,
nas trilhas deste chão caiçara, pelos lugares que ainda estão preservados dos
invasores, das ocupações humanas. Tem ruínas de antigas fazendas, tem divisas
de terras... É possível avistar árvores que imagino serem ainda do tempo dos
tupinambás, grutas de pedras que podem ter vestígios da pré-história... Tenho certeza
que essa nossa exuberante mata, com seus frutos, aves e animais, além de nos equilibrar, guardam
remédios essenciais a serem descobertos.
Quando eu me aventuro em
caminhadas, sobretudo pelos caminhos de servidão, busco sinais de antigas
ocupações, de cavas de casas e de árvores frutíferas. São os sinais mais
evidentes de que outras gerações passaram por ali. E quase sempre me atenho ao
chão, buscando restos de alguma coisa capaz de revelar algo mais. Influências? Sim, quando crianças, ao ir com
o meu pai cortar bambus na Prainha do Doca para a construção da nossa casa no
morro da Fortaleza, me entusiasmei com o único morador dali. Ele nos levou mais
para dentro da mata, de onde vinha um rio capaz de me encantar como todos os
rios daquele tempo. Depois de um poço (onde o correr das águas, com o tempo formou um lugar fundo), ele
nos conduziu a um espaço plano (uma cava no morro), com tijolos ainda inteiros
e cacos de telhas. “É coisa antiga,
estais vendo?”, esclareceu ele. “Algumas
telhas lá de casa foram daqui. De vez em quando, quando preciso de tijolos,
venho aqui buscar. Dentro do poço, ali embaixo, existe cacos interessantes,
mostras do que possuía e fazia uso alguém que viveu aqui”. Meu pai também achou interessante
tudo aquilo. Passamos aquele dia ali, cortando bambus, pois na semana seguinte
o Getúlio, um caminhoneiro que buscava mensalmente as cargas de bananas nas praias
(Brava e Fortaleza), distante uma légua dali, faria o favor de levar os bambus
para o nosso trabalho, a nossa obra. No final, o pessoal terminaria a nossa
nova moradia num animado pitirão.
Daquela nossa casa não restou
nada porque era pobre e outra lhe tomou o lugar. Somente uma mangueira plantada por papai deve estar
ainda como sinal da nossa vivência naquele lugar, no morro da Fortaleza, onde
começava a Badeja do Tio Custódio. Só posso dizer que, aquela fala do Doca, a
sua empolgação para com os sinais na mata da sua prainha, me marcaram para
sempre. Espaço de algumas das minhas heranças dos antigos. O que será agora de tudo aquilo?
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