sábado, 29 de agosto de 2020

É COISA ANTIGA, ESTAIS VENDO?

Prainha do Doca, entre as praias Dura e Vermelha (Arquivo JRS)



Herança dos antigos (Arquivo JRS)


                É costume meu, sobretudo quando estou nas minhas caminhadas, prestar mais atenção nas coisas. No meio do mato, então, reparo ainda mais em tudo! Tem detalhes interessantes nesses caminhos, nas trilhas deste chão caiçara, pelos lugares que ainda estão preservados dos invasores, das ocupações humanas. Tem ruínas de antigas fazendas, tem divisas de terras... É possível avistar árvores que imagino serem ainda do tempo dos tupinambás, grutas de pedras que podem ter vestígios da pré-história... Tenho certeza que essa nossa exuberante mata, com seus frutos, aves e animais, além de nos equilibrar, guardam remédios essenciais a serem descobertos.

                Quando eu me aventuro em caminhadas, sobretudo pelos caminhos de servidão, busco sinais de antigas ocupações, de cavas de casas e de árvores frutíferas. São os sinais mais evidentes de que outras gerações passaram por ali. E quase sempre me atenho ao chão, buscando restos de alguma coisa capaz de revelar algo mais.  Influências? Sim, quando crianças, ao ir com o meu pai cortar bambus na Prainha do Doca para a construção da nossa casa no morro da Fortaleza, me entusiasmei com o único morador dali. Ele nos levou mais para dentro da mata, de onde vinha um rio capaz de me encantar como todos os rios daquele tempo. Depois de um poço (onde o correr das águas, com o tempo formou um lugar fundo), ele nos conduziu a um espaço plano (uma cava no morro), com tijolos ainda inteiros e cacos de telhas. “É coisa antiga, estais vendo?”, esclareceu ele. “Algumas telhas lá de casa foram daqui. De vez em quando, quando preciso de tijolos, venho aqui buscar. Dentro do poço, ali embaixo, existe cacos interessantes, mostras do que possuía e fazia uso alguém que viveu aqui”. Meu pai também achou interessante tudo aquilo. Passamos aquele dia ali, cortando bambus, pois na semana seguinte o Getúlio, um caminhoneiro que buscava mensalmente as cargas de bananas nas praias (Brava e Fortaleza), distante uma légua dali, faria o favor de levar os bambus para o nosso trabalho, a nossa obra. No final, o pessoal terminaria a nossa nova moradia num animado pitirão.

                Daquela nossa casa não restou nada porque era pobre e outra lhe tomou o lugar. Somente uma mangueira plantada por papai deve estar ainda como sinal da nossa vivência naquele lugar, no morro da Fortaleza, onde começava a Badeja do Tio Custódio. Só posso dizer que, aquela fala do Doca, a sua empolgação para com os sinais na mata da sua prainha, me marcaram para sempre. Espaço de algumas das minhas heranças dos antigos. O que será agora de tudo aquilo?

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