Galhada de rena (Arquivo JRS) |
Eu sempre tive facilidade para
guardar nomes, sobretudo de pessoas marcantes. O primeiro Parada encontrei na
praia das Sete Fontes, em Ubatuba. Era sobrinho do Velho Jaime; casou-se com a
estimada Zilda Peralta, a prima. Até o final da vida todos se referiam a ele
como simplesmente Parada do Peralta. Como todos daquele lugar naquele tempo
(décadas de 1970/1980), Parada era pescador que parecia suportar todas as
adversidades, sempre estava disposto no enfrentamento do mar, ao costurar suas redes e a contar passagens da sua vida. Em dias assim, quando a natureza parece se
converter em água e um frio causa preguiça de sair de casa, me recordo daqueles
pescadores encharcados, mas nunca deixando de visitar suas redes e mostrando seus
pescados frescos como recompensa de cada dia. Mesmo molhados, com frio, eles mostravam
corpos curtidos pelo sol. Seus olhares, assim que surgia a aurora, passeavam
primeiramente pelo mar, pelas condições que pareciam difíceis ou mais fáceis. Boas
lembranças do Parada e de toda a parentalha da Sete Fontes!
O segundo Parada era um turista
que fiz amizade na praia da Lagoinha. Ele passava uma temporada numa casa em estilo modernista, localizada na boca-da-barra, onde até hoje as marés
certamente lambem o gramado. Era Guss Parada, um artista nascido na
Dinamarca, cujo pai foi um migrante lusitano. Me aproximei dele atraído por uma
escultura que estava sendo trabalhada na varanda do imóvel. Como sou
intrometido, logo estava junto dele. Parecia ser gente boa. Conversamos algumas
vezes porque ele também era bom de prosa. Enquanto permaneceu em terra caiçara,
o seu entretenimento era criar obras de artes a partir de coisas encalhadas, trazidas
pelo mar. Ou seja, a sua inspiração estava ali e pelas redondezas. Logo o seu entorno tinha troncos, raízes, conchas... Não demorou nada para alguns caiçaras também
contribuírem com o Guss. “Trouxe para o
senhor porque achei diferente, bonito. Sei que o senhor vai olhar e ver outra coisa, transformar para ficar mais bonito ainda”. Certamente que, pelo mundo afora,
esculturas nascidas ali, no canto da Lagoinha, estão por salões de artes, em
casas chiques. Eu tenho como lembrança dele uma pequena peça. Ele mesmo deu o
nome: “Galhada de rena”. E não é que parece mesmo!?!
Quando eu disse ao amigo João Tãozinho que tinha conhecido o Guss Parada, ele reagiu: "Cusparada? Você acha que tem neste mundo gente com nome de cusparada?" Corrigi na hora riscando bem forte no chão G-U-S-S Parada. "Ah! Então não é cusparada!""
A esta altura da vida, eu que já
tenho a barba toda branca, sei que os dois já se foram. Nem o mar e nem os tocos encalhados na
praia lhes interessam agora. Parada Peralta e Guss Parada poderiam ser
parentes, pois suas raízes eram lusitanas. Para mim ficaram as memórias de suas
labutas, de seus talentos. Creio que suas obras seguem resistindo ao tempo. A
pequena galhada está na parede a me recordar. Salve, Parada! Salve, Guss
Parada!
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