Olha o bonito no muro! Salve o artista! (Arquivo JRS) |
Acordo cedo; desde a
madrugada ouço os galos na vizinhança. Me levanto prestando atenção no quintal da
minha casa, “um pedaço da Mata Atlântica”,
conforme diz a mana Ana, pois aparecem muitos passarinhos. Nem todos se atrevem
a cantar. Regular mesmo só a cantoria de sabiá-galinha (laranjeira). De vez em
quando parece um trinca-ferro solitário no alto do ipê, um bonito (gaturamo
verdadeiro) na jabuticabeira, um arcaide a brigar com a própria imagem no vidro e outros raros esporádicos visitantes. Rolinhas, sanhaços, beijas-flores, mariquitas e pardais fazem festa o tempo todo! Só que, ultimamente, tenho notado mais cantorias e mais espécies diferentes. Então passei a me
perguntar o que pode estar acontecendo. Pensei na rotina de uns cinco meses
para cá. Apenas duas coisas podem estar resultando nisso: tenho dado mais
atenção ao comedouro deles, e, na varanda da cozinha, um aparelho de som está
ligado bem discretamente a cada manhã com as músicas que eu gosto. Desconfio que é o que está estimulando a cantoria deles, a permanência por ali. Até o cachorro tem
permanecido por perto, sem latido algum, como se estivesse gostando das
melodias. Agora, por exemplo, cantam daqui, uma linda moda de viola (Vida no campo), os
saudosos irmãos Pena Branca e Xavantinho:
O galo cantou, é de
manhã
A barra do dia dourada
vem surgindo
Clareou, a passarada
acorda fazendo festa
E a natureza sorrindo
A vida no campo é
fruta madura
Amizade é coisa pura,
é mel no coração
Gado no curral, cuscuz
com leite
Café com queijo, eu
gosto de um requeijão
Vou lhe falar
Não troco essa vida
por nada desse mundo
Não saio desse lugar
E por aí vai a moda deles. Vale a pena ouvi-la inteira, apreciando a natureza que nos rodeia. Quando termina a música, permaneço em silêncio.
Estou encantado. A cinco metros, empoleirado num galho da laranjeira, um
canário continua na cantoria dele.
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