Ao escrever relembrando as pessoas e lugares significativos
da minha infância, eu faço com o maior respeito. Se em alguma parte pode haver
interpretação negativa, é da cabeça de cada um. Quem me conhece sabe os meus
princípios, o meu orgulho de ter recebido as muitas contribuições ao
indivíduo que sou hoje. Até as “pisadas de bola” da parte do meu finado pai eu
consegui dar a volta por cima. São as fraquezas humanas, né?
Na Praia do Perequê-mirim, a nossa família viveu por dez
intensos anos. Ali eu conheci os primeiros muros na vida. Nenhum era cercando
as pobres casas de caiçaras. Por isso circulávamos tranquilamente.
Nesta semana, passei reparando onde morava o Seo Bermiro e
sua prole. Era como uma vila: tinha a casa do Agenor e do Altino. Também perto dali morava a Dona Margarida e seu neto Tico. Tudo era areia!
Ainda no terreno arenoso, vizinhando com a Capela de
Sant’Ana, moravam o Dito Neves e o Seo Targino. O quintal deste era outra vila dentro do
Perequê, com os filhos (Dico, Euclides, Toninho...) se instalando ao redor da
casa do velho pescador.
Ah! O Dito Neves merece uma parada especial! O seu filho
Joãozinho era meu companheiro de escola. Atentado que só! Foi nas costas dele que eu vi o professor Oberdan
quebrar uma régua grande, de madeira.
Os cajueiros do quintal do Dito Neves eram uma atração
especial! Tinha do amarelo e do vermelho; ficavam carregados no verão. Nunca
mais vi algo assim no nosso município! Hoje, recompondo aquele lugar da minha infância e as minhas lembranças, está uma escola infantil. Vi que ao menos um cajueiro permanece sobre a terra.
O Dito Neves era companheiro de caçadas do papai. Eles vinham do
mato com aqueles porcos e, ali mesmo, na beira do rio que passava nos fundos da
sua terra, faziam a limpeza (pelavam, cortavam, dividiam com os outros). Ao
chegar em nossa casa, meu pai separava algumas vasilhas, colocava uns pedaços
nelas e distribuía as tarefas: “Zezinho leva este tanto para o Germano. Mingo,
pega esta aqui e deixa na casa do Jango. Jarico vai até o Edno da Elvina e fala
que eu mandei esse pedaço para eles”. Era assim a nossa comunidade caiçara.
A propósito: será que existe ainda aquele tranquilo rio onde tantas vezes eu apreciei os caçadores trabalhando e a Dona Joaninha lavando suas roupas e vasilhas?
A propósito: será que existe ainda aquele tranquilo rio onde tantas vezes eu apreciei os caçadores trabalhando e a Dona Joaninha lavando suas roupas e vasilhas?
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