segunda-feira, 11 de agosto de 2014

LUNDU DO SABÁ

                    
Contações do Velho Louzada (Arquivo Camaroeiro)
         Olá, Samuel Félix! Que bom tê-lo como seguidor do blog!

            Ao ler o livro Longe da árvore, de Andrew Solomon, destaquei:

         “O mundo seria melhor com mais culturas? Acredito que sim. Da mesma forma que lamentamos a perda de espécies e tememos que a redução da biodiversidade possa causar efeitos catastróficos no planeta, também devemos temer a perda de culturas, porque a diversidade de pensamento, de linguagem e de opinião faz parte daquilo que torna o mundo vibrante. Estima-se que até o final deste século [XXI], metade das seis mil línguas atualmente faladas na Terra terá desaparecido. Com essas línguas, vão-se muitos modos de vida tradicionais”.

     É por isso que tento incentivar as pessoas a registrarem sempre alguma coisa de seu entorno, dos mais antigos e da nossa história caiçara. Temos que aproveitar desse material humano, dos velhos caiçaras e das suas experiências!

         O “nego velho” Silvério Sabá, da Praia da Enseada, era também vendedor de peixes. Numa ocasião, passando com uma carga de peixe galo, obeba e maria-mole, num dia de sol muito ardente, parou para uma prosa e se refrescar com água  gelada. Era comum desse velho caiçara sempre trazer novidades, causos novos, coisa que eu escutava com o maior prazer. Eis o que eu ouvi naquele dia distante:

        “Iaiá, não teime. Solte a marreca, senão eu morro.
         Sou levado da breca.
         Quem ver a menina terna e mimosa,
        Pequena e redondinha,
        Não diz que conserva presa
        Sua bela marrequinha”.

      - Sabe o que é isso, Zezinho? Percebendo que eu não tinha resposta, emendou:

       - É lundu, diversão que embala o meu povo!

     - E sabe o que é marrequinha? Não sabe, né? É aquele laço que fica atrás dos vestidos das meninas.

       Depois de anos fui pesquisar a respeito de lundu. 

  “O lundu nasceu em Angola e Congo. Originariamente era um dança trazida pelos escravos nos primeiros anos da escravidão. A primeira referência escrita sobre esta dança data de 1780 - uma carta escrita por um antigo governador de Pernambuco ao Governo português, sobre danças de negros brasileiros denunciadas ao Tribunal de Inquisição.”.


        Foi-se o Sabá...foi-se tanta gente...Faz-me pensar na frase de um estudioso africano: 

   “Quando uma pessoa velha morre, é uma biblioteca que se queima”.

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