Avião do Jean-Pierre Patural no Ubatumirim - 1960 (Arquivo Patrícia Patural) |
O
caiçara sempre foi de pilheriar, de brincar. “Gosta muito de tirar sarro”. Quase
sempre tudo acaba em risadas. O título deste, por exemplo, vem de um embaraçamento
provocado pelo Valdemar “Sabiá”, nos idos de 1970, ao escutar o professor
Osmildo citando o empresário Félix Guisard: “O senhor disse guisado, professor?
Que guisado?”. Todos riram, mas a resposta do mestre foi um cascudo no cocuruto
do engraçadinho. Estávamos no quarto ano primário. Agora, depois de quarenta anos do ocorrido,
lendo o livro de Cláudia Martins, com o título de Félix Guisard – a trajetória de um pioneiro, achei este
importante complemento:
“O sobrenome Guisard, herdado do pai, não tem um significado
próprio, é o plural de ‘Guise’, uma liga católica formada na França durante os
Reinados de Henrique III e Henrique IV, no século XVI”. Acho que está
respondido ao “que guisado?”.
O Félix Guisard, último proprietário do “Casarão da Fundart”,
era neto de franceses. Seu avô, Félix Louis, em 1855 veio tentar a vida no
Brasil, um país que oferecia chances de enriquecimento, sem guerras. Em 1861
este francês estava se casando em Teófilo Otoni, com uma jovem francesa. E foi
perseguindo as melhores chances que essa família foi se aproximando da nossa
terra caiçara. Já era Minas vindo para São Paulo!
Para resumir o espírito empreendedor dos Guisard, sob sua influência direta, em 1927 foi fundada a Companhia Industrial de Taubaté (CTI).
“Dinheiro atrai dinheiro”, francês atrai francês. Assim, sendo proprietário do
Sobrado do Porto em Ubatuba, Guisard Filho nos apresentou a Família Patural. Era a
metade do século XX; as pessoas sabiam enxergar o potencial da nossa
cidade!
Assim está na entrevista que há anos eu fiz com a saudosa Silvia Patural:
“Através
de um convite de uma família muito amiga -os Guisard - viemos, em 1953, conhecer
Ubatuba. Eles eram os donos do Casarão, onde está atualmente a sede da Fundart.
Foi em uma de suas casinhas, atrás do Casarão, que nós ficamos hospedados. Meu
marido - Jean-Pierre - se entusiasmou pela cidade. É
preciso lembrar que ele adorava o mar; era um velejador em nossa terra natal.
Ainda temos a foto de seu primeiro veleiro na região do Canal da Mancha,
Bretanha, norte da França. Logo se empolgou em investir aqui.
Em 1954 nós partimos à procura de um lugar que, além de agradável, oferecesse
as condições propícias de cultivo e de instalações. Meu marido era um
empreendedor. O lado sul do município logo ficou fora de cogitação. Motivo: a
abertura da rodovia Ubatuba-Caraguatatuba estava sendo concluída, fazendo com
que os preços das terras daquele lado encarecessem muito. Então nos falaram do
lado norte, das vastas áreas e de outras vantagens”.Ai, meu Deus! Que guisado!!!
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