O finado Tio Clemente, torcedor fanático do Santos Futebol Clube, foi quem continuou morando na casa do Nhonhô Armiro, na Praia da Fortaleza. Depois da morte deste, sempre a sobrinhada passava para uma prosa, combinar alguma coisa ou simplesmente ficar na sua aconchegante cozinha escutando, nas tardes de domingo, uma partida de futebol nas ondas sonoras captadas por um fio de arame esticado ao longo da cumeeira. No final, um café era sagrado como despedida do fim de semana.
No quintal do querido Tio Clemente sempre teve galinhas e patos. "É a minha criação". Numa ocasião, a Tia Maria fez o seguinte comentário: “Tio Clê, preste atenção naquele galo novo. Não está parecendo que, em vez de namorar as franguinhas, ele se oferece para o galo velho, aquele carijó?”. De pronto o tio respondeu: “Você sabe que eu já botei reparo nisso?! Será um galo bichado? Sabe que tem duas marrecas que também se comportam assim, como 'fememacho'? Tá vendo ali, debaixo da laranjeira? São as duas que estão de namoro”. E seguida ele nos contou o seguinte: “O velho Migué Mateus, lá do Corcovado, numa ocasião contou aqui em casa, quando o meu pai ainda era vivo, que o Antonio da Cruz, morador lá do Rio Escuro, quase no Sertão das Cotias, perto da Tia Estelita, distante mais de cinco quilômetros de sua casa, tinha um burro que, em época de Lua Cheia, chegava a arrebentar cerca de arame para fugir e ir namorar um cavalo dele, do Migué Mateus. Imagine um burro ir lá do Rio Escuro até o Corcovado e ficar se oferecendo para o cavalo?!?”. E completou: “Isso é o fim dos tempos. Os mais antigos diziam que quando essas coisas acontecessem seria o fim do mundo. Cruz-credo!”.
Muita coisa se foi... Os tempos agora são outros. Pelas ruas mais próximas vejo homem com homem e mulher com mulher se beijando, se acariciando à vontade. Imagino se o titio estivesse vivendo nesta época, ele repararia muito. E faria os seus comentários!!! E entre os animais também não é diferente; as coisas estão assim, nessa “pouca vergonha” como dizia o Mané Bento. Digo isso apenas para relatar um fato: na semana passada, estando no quintal do Caetano, o Pinhé me chamou para olhar uma curiosidade. Tratava-se de um ninho dentro de uma caixa, com uma galinha chocando ovos. Ao lado, um galo garnisé, de um branco encardido, fazia vigília à companheira chocadeira. De repente... Peraí! Não é uma galinha! “É isso mesmo, Zé! É outro galo garnisé! Você já viu isso? É um galo chocando os ovos com o outro galo tomando conta. Deve ser influência da nossa modernidade humana”. É mole?!? Nisso chegou o Velho Caetano: “É, Zé! Tem galo...e tem galo! Esses dois se namoram faz tempo. Um outro que batia neles virou um cozido no último domingo. Será que eles aprendem isso com a gente? Só sei dizer que tá a maior putaria no meu terreiro. Fazer o quê?”.
Calma, Caetano. São as transformações do mundo, tal como as mudanças no ser caiçara!
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