terça-feira, 12 de agosto de 2014

ZÉ PRETINHO

Praia do Perequê-mirim ao clarear do dia (Arquivo JRS)

       Olá, Thais Taniguti! O blog te acolhe!

      Pelas ruas do Perequê-mirim, há muito tempo, passaram personagens singulares, os primeiros migrantes na busca de melhores condições de trabalho: alguns eram mansos, pacatos cidadãos (Caninha, Nolasco, Gentil...); outros viviam brigando, sobretudo quando exageravam na “mardita água que passarinho não bebe” (Tadeu, Dito Preto...); tinha aqueles que eram craques no futebol (Bicudo, Zé Canela, Hélio...) e muitos outros que passavam despercebidos (Dito Santo, Chico Simão, Otacílio Preto...).

        Passeando pelas ruas da minha infância nesse bairro, ao ver a placa Severino Moryne indicando a antiga Rua J, lembrei-me do Seo Pascoal e de seus familiares, sobretudo da Dona Zelma e do Seo Aroldo. Eram paulistanos que se davam muito bem com os caiçaras. A casa de veraneio deles era ali, no areal, entre as terras do Seo Rodolfo Cabral e a da Dona Margarida. Bem defronte tinha cajueiros e uma jabuticabeira, onde mais tarde o Cláudio “Preto” fazia seus trabalhos, consertava carros. Este era filho do Seo Zé Pretinho (ou Iêieca). Moravam no Morro do Angelino (ou da Mariazinha).

     “O Zé Pretinho mandou dizer que o Iêieca não vem trabalhar hoje. Ele foi na Enseada catar sapinhauá”. É isso! O Seo Zé Pretinho atendia pelos dois nomes. E brincava muito com isso!
      “Tudo bem, Zezinho? Você viu o Zé Pretinho por aí? Se encontrar com ele, avise que o Iêieca foi trabalhar na obra do Valentim, do Xarazinho, atrás do depósito Itajá”. Era comum, ao ser cumprimentado, ele dizer essas frases para provocar risos em nós. Para encurtar o assunto, ainda na minha adolescência, o Zé Pretinho voltou para a sua cidade natal (Poços de Caldas), em Minas Gerais. Só os dois filhos mais velhos continuaram no bairro: Cláudio e Cleide.

      Uma mulher que eu muito admirava era a Dona Gustinha, casada com o Seo Zé “Barrigudo”. Que santa! Cuidava da filharada, trabalhava pra fora e ainda aturava o marido que sempre se “desequilibrava na branquinha”. Lembro-me de um apelido dado a ele pelo Miguel Cabral: “Nó Cego”. O apelido era por causa de que o Seo Zé vivia enrolando as pessoas, deixava trabalhos pela metade, fazendo do jeito dele etc. Porém, todos tinham paciência (ou dó?). Naquele tempo era assim. Havia muita tolerância, todos se conheciam. 

           Estando me referindo à Dona Gustinha, a minha esposa apartou: “Eu a conheci bem! Foi uma ótima cozinheira! Trabalhava na escola Florentina. Era muito carinhosa com a gente”. Agora, abraços aos seus descendentes.

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