Nesse canto da praia morava o Adelino (Arquivo JRS) |
Em outros
tempos os caiçaras viviam intensamente outros hábitos, estavam mais próximos do
sagrado e se divertiam com coisas simples.
Digo isso apenas para apreciar a narrativa de mais um fato ocorrido na
Praia do Cedro, terra dos meus parentes Lopes, dos Rozeno etc., aquela depois
da Praia Grande do Bonete. Foi assim:
A roça do
Adelino era ali, na descida do morro, na Floresta do Cedro. O mandiocal, devido ao ataque
das pacas, era cercado de bambu, com entradas onde ficavam armados os mundéus.
Desse modo diminuía o prejuízo por conta dos roedores, tendo ainda mais uma fonte
de alimentação. “Como é boa a carne de
paca!”.
Numa ocasião,
tendo visitado o tresmalho no escurecer, o meu parente João Inocêncio (ou João
da Vargem), após puxar a canoa e guardá-la no rancho, na Praia do Cedro, subiu o
morro com um bonito cação. Ao passar pela roça do Adelino, percebeu que o
mundéu estava desarmado. Lá estava uma grande paca. O que fez ele? Tirou a caça
e, em seu lugar, deixou o cação.
No dia
seguinte, ao pisar no mandiocal, o Adelino se assustou vendo o cação na
armadilha. Chegando em casa todo espavorido foi logo comentando com sua esposa: “É castigo. Eu
não devia caçar as coitadas das pacas. Elas também são criaturas de Deus”. Impressionado
do jeito que estava, fez o mesmo comentário no jundu, junto aos outros
caiçaras do lugar. Ao ouvi-lo, o João da Vargem assim falou: “Comigo também
aconteceu coisa semelhante, compadre. Fui visitar o tresmalho, ali na Virada da
Deserta. Sabe o que tinha nas malhas?
Uma paca. E das grandes! Acho que é castigo mesmo! Nunca mais eu vou
pescar ali!”.
Ah! Como era
divertido esse pessoal!
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