sábado, 2 de agosto de 2014

É CASTIGO!

Nesse canto da praia morava o Adelino (Arquivo JRS)
     
       Em outros tempos os caiçaras viviam intensamente outros hábitos, estavam mais próximos do sagrado e se divertiam com coisas simples.  Digo isso apenas para apreciar a narrativa de mais um fato ocorrido na Praia do Cedro, terra dos meus parentes Lopes, dos Rozeno etc., aquela depois da Praia Grande do Bonete. Foi assim:

          A roça do Adelino era ali, na descida do morro, na Floresta do Cedro. O mandiocal, devido ao ataque das pacas, era cercado de bambu, com entradas onde ficavam armados os mundéus. Desse modo diminuía o prejuízo por conta dos roedores, tendo ainda mais uma fonte de alimentação.  “Como é boa a carne de paca!”.

         Numa ocasião, tendo visitado o tresmalho no escurecer, o meu parente João Inocêncio (ou João da Vargem), após puxar a canoa e guardá-la no rancho, na Praia do Cedro, subiu o morro com um bonito cação. Ao passar pela roça do Adelino, percebeu que o mundéu estava desarmado. Lá estava uma grande paca. O que fez ele? Tirou a caça e, em seu lugar, deixou o cação.

         No dia seguinte, ao pisar no mandiocal, o Adelino se assustou vendo o cação na armadilha. Chegando em casa todo espavorido foi logo comentando com sua esposa: “É castigo. Eu não devia caçar as coitadas das pacas. Elas também são criaturas de Deus”. Impressionado do jeito que estava, fez o mesmo comentário no jundu, junto aos outros caiçaras do lugar. Ao ouvi-lo, o João da Vargem assim falou: “Comigo também aconteceu coisa semelhante, compadre. Fui visitar o tresmalho, ali na Virada da Deserta. Sabe o que tinha nas malhas?  Uma paca. E das grandes! Acho que é castigo mesmo! Nunca mais eu vou pescar ali!”.


         Ah! Como era divertido esse pessoal!

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