segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

SÃO TODOS INCRÉUS!

Olha o peru!             (Arquivo JRS)


                Ao ouvir  a notícia da renúncia de Bento, o papa, imaginei os comentários de João Pimenta, o incréu da praia do Sapê, onde eu nasci.  Eu já contei em outras ocasiões da concepção de religião para esse comerciante. Na minha memória, era com o frei Pio que ele adorava discutir. Coitado do franciscano!
                O irreverente João Pimenta, esposo da dona Quinhinha,  neste momento do magistério petrino em crise,  diria que “Bento XVI está de aviso-prévio.  Portanto, que se preocupem em procurar alguém para o cargo vacante”.
                Do papa, por ocasião de sua passagem pela cidade de Aparecida e cercanias, eu ouvi coisas engraçadas. Na cidade de Potim, na metade do caminho entre Guaratinguetá e Aparecida, por exemplo, o povo enfeitou a rua e o aguardou. Era trajeto certo, logo após deixar a fazenda do frei Hans. De repente, no horário previsto, vários carros pretos, “na maior escuridão por dentro” passaram enfileirados. Num deles estava o tão aguardado papa. Só que eles passaram bem velozes, sem dar para distinguir em qual deles estava o estimado líder dos católicos. "Nem um lencinho foi abanado!". Só deu para sentir o vento.  Imediatamente surgiram as brincadeiras. Por um bom tempo o velhinho foi apelidado de “Papa Vento XVI, o ligeiro”.
                Agora, o Brasil tem cinco votantes e candidatos em potencial. Um deles é Cláudio Hummes, já aposentado, mas que eu  conheci na época em que o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, sob a direção de Lula, forçou  a abertura democrática brasileira. Ele, liderando a Diocese de Santo André, manteve as igrejas abertas para as assembleias e sustentou a espiritualidade da Pastoral Operária. Era o representante de uma teologia coerente com o momento histórico dos trabalhadores.
                Numa ocasião, após um jantar reservado, ele nos contou a seguinte passagem que até parece um causo nosso:
                “Já faz tempo, no bairro do Pedroso, na área rural, num domingo logo após a missa, uma família muito simples me convidou para o almoço. Que beleza! Quase tudo naquela mesa era produzido ali mesmo. Tudo muito natural. Ao redor da casa, o que se via eram abóboras. Imensas abóboras!  Logo pensei, conhecendo os talentos da cozinheira de casa, que uma daquelas daria um inigualável doce em sabor e quantidade. Ai o pecado da gula! Porém, estava meio que sem jeito de pedir ao menos uma para levar para casa. Ensaiei, ensaiei ... Por fim, depois de um fumegante café servido em caneca de ágata, ao me despedi,  tomei coragem e até me ofereci para pagar por uma abóbora daquelas. Uma só bastava, disse eu. Imediatamente o chefe da casa, todo sorridente, atalhou que eu podia levar quantas quisesse. ‘Leva, seu bispo! Leva quanto puder! Tudo isso é para dar para os porcos mesmo! Só escolha daquelas que o peru ainda não bicou!’.  É assim o povo simples, o homem da roça. Que Deus olhe por eles!”.
               O comprometido pastor não acrescentou mais após um largo sorriso. O bondoso tio Totô só diria: "São todos incréus!".

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