Olha o peru! (Arquivo JRS) |
Ao
ouvir a notícia da renúncia de Bento, o
papa, imaginei os comentários de João Pimenta, o incréu da praia do Sapê, onde
eu nasci. Eu já contei em outras
ocasiões da concepção de religião para esse comerciante. Na minha memória, era
com o frei Pio que ele adorava discutir. Coitado do franciscano!
O
irreverente João Pimenta, esposo da dona Quinhinha, neste momento do magistério petrino em crise, diria que “Bento XVI está de aviso-prévio. Portanto, que se preocupem em procurar alguém
para o cargo vacante”.
Do
papa, por ocasião de sua passagem pela cidade de Aparecida e cercanias, eu ouvi
coisas engraçadas. Na cidade de Potim, na metade do caminho entre Guaratinguetá
e Aparecida, por exemplo, o povo enfeitou a rua e o aguardou. Era trajeto certo,
logo após deixar a fazenda do frei Hans. De repente, no horário previsto,
vários carros pretos, “na maior escuridão por dentro” passaram enfileirados.
Num deles estava o tão aguardado papa. Só que eles passaram bem velozes, sem
dar para distinguir em qual deles estava o estimado líder dos católicos. "Nem um lencinho foi abanado!". Só deu
para sentir o vento. Imediatamente surgiram
as brincadeiras. Por um bom tempo o velhinho foi apelidado de “Papa Vento XVI,
o ligeiro”.
Agora,
o Brasil tem cinco votantes e candidatos em potencial. Um deles é Cláudio
Hummes, já aposentado, mas que eu
conheci na época em que o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo,
sob a direção de Lula, forçou a abertura
democrática brasileira. Ele, liderando a Diocese de Santo André, manteve as
igrejas abertas para as assembleias e sustentou a espiritualidade da Pastoral
Operária. Era o representante de uma teologia coerente com o momento histórico
dos trabalhadores.
Numa
ocasião, após um jantar reservado, ele nos contou a seguinte passagem que até
parece um causo nosso:
“Já
faz tempo, no bairro do Pedroso, na área rural, num domingo logo após a missa,
uma família muito simples me convidou para o almoço. Que beleza! Quase tudo
naquela mesa era produzido ali mesmo. Tudo muito natural. Ao redor da casa, o
que se via eram abóboras. Imensas abóboras!
Logo pensei, conhecendo os talentos da cozinheira de casa, que uma
daquelas daria um inigualável doce em sabor e quantidade. Ai o pecado da gula!
Porém, estava meio que sem jeito de pedir ao menos uma para levar para casa.
Ensaiei, ensaiei ... Por fim, depois de um fumegante café servido em caneca de
ágata, ao me despedi, tomei coragem e
até me ofereci para pagar por uma abóbora daquelas. Uma só bastava, disse eu.
Imediatamente o chefe da casa, todo sorridente, atalhou que eu podia levar
quantas quisesse. ‘Leva, seu bispo! Leva quanto puder! Tudo isso é para dar
para os porcos mesmo! Só escolha daquelas que o peru ainda não bicou!’. É assim o povo
simples, o homem da roça. Que Deus olhe por eles!”.
O comprometido pastor não acrescentou mais após um largo sorriso. O bondoso tio Totô só diria: "São todos incréus!".
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