Pescadores no cerco - (Arquivo Chieus). |
Não faz tanto tempo assim que, na praia do Puruba, logo depois de um gostoso café na casa do tio Dico, fomos até a boca-da-barra para ver o mar. Lá, encontrando um jovem turista (barraqueiro, campista) muito conversador, comecei uma prosa meio que intelectual. “Conversa difícil”, de acordo com os caiçaras. O conteúdo era mais ou menos isto:
Nos tempos antigos, quando as culturas estavam nascendo nas primeiras sociedades, os homens criaram os mitos para explicarem, a eles mesmos, as faces misteriosas da realidade.
Os mitos são verdades emocionais porque, em muitos de seus momentos se faz necessário crer, apenas crer. Em outros, por tratar de condições humanas, da vida em sociedade em que foram elaborados, eles exigem racionalidade. Por exemplo, se eles colocam as mulheres (Eva, Pandora...) como responsáveis pelos males na Terra, não tem como não admitir que já predominava o contexto machista. Ou seja, os homens estão escrevendo uma tradição oral e jamais irão se colocar como culpados disso. Ainda hoje é assim! Então não é comum, quando os filhos falham em alguma coisa, o pai logo indicar a mãe como culpada? “Tá vendo? Você é quem errou; educou desse jeito!”.
Em muitas culturas os mitos continuam sendo importantes, servindo de ponte para o conhecimento e de fortalecimento dos valores sociais, sobretudo unindo as pessoas. Em nosso caso, de pertença à cultura caiçara, os causos e as memórias de tempos passados têm funções semelhantes. Podemos comparar como um caminho que dá segurança, que não nos inibe diante daquilo que devemos passar.
Nisso o tio Dico pergunta:
- Então causo é que nem mito?”
Não tinha como definir de outra forma para o bondoso homem: os dois são bem parecidos. Os causos e memórias do nosso povo servem para nos revigorar. Eles estão repletos de pessoas vivendo como a gente; em condições semelhantes vivem superando as dificuldades com criatividade.
- Então... (Novamente o velho pescador purubano)... a necessidade é mãe da criatividade?
- É isso mesmo! Acertou em cheio, tio Dico!
Nenhum comentário:
Postar um comentário