Aroeira madura na espera de passarinhos. |
A
amiga Fátima sempre foi muito preocupada em registrar os aspectos da cultura
caiçara, da nossa história. O seu livro Arrelá Ubatuba é só isso. Hoje, querendo entender sobre o lugar dos seus,
parte do seu lado materno (região da Praia Dura e Folha Seca), ela recolheu a seguinte preciosidade:
“O
Rio Cajarana, que nasce no Corcovado, em determinado ponto do trajeto se divide
em dois, formando outro braço que é conhecido como Rio do Meio. Esses dois rios
vêm se encontrar novamente no Rio Escuro, formando um bolsão de mangue,
propício ao desenvolvimento de várias espécies de madeira, inclusive a caxeta.
“Noutros
tempos, quando ainda era caminho, nesse bolsão formava um areião recoberto por
uma camada de folhas secas que, ao serem pisadas, faziam muito barulho. Daí
tira-se a conclusão, segundo os antigos, do nome dado a esse lugar [Sertão da
Folha Seca]”.
Agora,
confirmando o que o meu pai relatou sobre o empreendedorismo de Magalhães, a
Fátima escreveu:
“No
final dos anos quarenta, um senhor chamado Magalhães veio do Rio de Janeiro e
montou uma serraria na Praia Dura. Extraía caxeta do Sertão da Folha Seca e
mandava em toras brutas para o Rio de Janeiro. Depois de algum tempo,
absorvendo a mão de obra local e alguns que vieram do Rio de Janeiro, foi
criada uma fábrica de beneficiamento de madeira. Ali a caxeta era transformada
em tábuas e toletes de tamanho padrão, que eram embarcadas em navios, para
depois serem transformados em lápis, tamancos e outros derivados.
Contam
os antigos que a madeira era cortada, amarradas umas às outras como se fossem
uma balsa, sendo transportadas boiando rio abaixo. Quantidades enormes vinham
para a serraria todos os dias.
Tempos
depois, com a escassez de madeira, e alguns problemas pessoais, a serraria
fechou.
A
realidade de hoje dói. Quando se passa pelo local, se depara com o estado de
total abandono. Nos dois rios nem peixes existem mais. O agrotóxico das
plantações passadas e o esgoto deixaram os rios de águas claras e piscosas em
estado de calamidade. Pode-se dizer um rio fétido, lodoso, morto e esquecido,
que se vinga quando inunda tudo em época de enchente, matando tudo que é
plantado.
Em
sua vingança o rio está matando também os pés de cambucás, bacuparis,
jabuticabas e laranjeiras plantadas ali pelo meu avô [Salvador Carlos], um dos
novos donatários que fez dali seu reinado”.
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