Era tempo em que se lidava no mar e nos roçados. |
“Ao
relembrar dos primeiros empreendedores na praia da Maranduba, não se deve
omitir o português Joaquim da Silva Magalhães”. Esta afirmativa é de Leovigildo
Félix dos Santos, meu pai.
Demonstrando
interesse no assunto, ele continuou:
“O
Magalhães veio do Rio de Janeiro. Lá ele mexia com laranjais. Aqui ele montou
uma serraria para beneficiar caxeta, onde as toras se transformavam em tábuas
para tamancos e lápis. Dele era um fordinho (caminhonete) que puxava as toras
de caxeta desde a Tabatinga até a Maranduba.
Onde era a sua fábrica? Era onde
mais tarde virou uma oficina, no começo da estrada da Caçandoca. (Observação: na
década de 1990, nesse local, trabalhava como mecânico o Assis, esposo da Nair,
filha do Agostinho da Lagoinha). Depois mudou-se para a Praia Dura, onde hoje é
a “cabeça da ponte”, bem rente ao mangue da barra. Impressionante era ver os “rosários de toras
de caxeta” virem rio abaixo, desde a Folha Seca, Corcovado e Rio Escuro!
O
Magalhães, casado com a dona Aurora,
teve duas filhas: Marlene e Nair. Esta, segundo diziam, foi secretária do Jânio
Quadros. Na época, as duas canoas de voga da Maranduba pertenciam ao
empreendedor. Seus nomes? “Aurora” e “Nair”.
Eram canoas lindas!
A
Zilda Giraud, irmã do Biduca, mulher do Arnaldo Félix, que morreu no mar
enquanto pescava com o Nequinho Salomão, era a empregada do Magalhães. Cabe
ressaltar um detalhe do sinistro: o Nequinho, por muito tempo, foi investigado
pela polícia. Afinal, o Arnaldo Félix caiu da borda do barco, foi picotado pela
hélice e nem a roupa apareceu. Foi um acidente. O Nequinho, coitado...
O
outro lugar de trabalho era a olaria. Começou de uma sociedade de Magalhães com
o Luizinho, de São José dos Campos, que logo desistiu. Naquele tempo quase não havia emprego. Quem não estava nisso, tinha que lidar na roça e no mar.
Com
dez anos eu já trabalhava com a máquina que fazia pressão (vapor) para girar o
maquinário todo da olaria. O meu pagamento era de dez mil réis. Sob todas as
condições (vento, chuva, sol...) eu cuidava da lenha e do fogo.
A
olaria tinha uma imensa chaminé de tijolos assentados com massa de açúcar,
tendo uma base de grossas toras enfiadas terra adentro. O pedreiro dessa
maravilha foi o Cesário Blac (ou Blaque), irmão da Maria Blac. Era tio do
Élcio; moravam no Canto do Cemitério, ali na praia. Outros que trabalhavam
comigo na olaria: Tião Plácido, Jaime, Dito Oliveira, Arcendino e Lúcio, meu
irmão.
Pouco
tempo depois, as instalações foram arrendadas para o Elias Salum, um turco.
Lembra da finada Chica, do Pernambuco? Ela foi empregada, em São Paulo, do pai
do Elias Salum. Foi onde conheceu o Antonio Pernambuco. Depois de casados ainda
viveram um tempo em São Paulo. Quando vieram morar na Praia da Fortaleza acho
que já tinham alguma criança.
Era
o meu pai, o seu avô Estevan, quem levava a Chica até a Praia Grande do Bonete
de canoa. Isso se dava quando ela vinha de férias para visitar os pais que
moravam na Fortaleza. Ele não cobrava nada. Era um prazer e uma obrigação. O
pai dela, o Lindo Lopes, era parente nosso por parte do vô Fabiano Lopes. É por
isso que eu digo que também temos herança no Cedro e na Deserta, no lugar dos
Lopes”.
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