Taturanas na mata (Arquivo Júlio) |
Na Rua do Jipão, no princípio de 1990, à procura do Dito Nunes, o fazedor de carvão do Pé-da-Serra, eu parei. É que eu queria saber a razão do nome da rua (que na verdade era um trilho entre as árvores, a partir da Colônia de Férias). Foi o Chico Lopes quem deu a informação: o jipão era o veículo que puxava madeira para abastecer a serraria outrora existente na Esquina da Máquina (onde hoje está localizado um escritório da Sabesp e a sede da prefeitura, no entroncamento das ruas Paraná e Dona Maria Alves). Para comprovar a história, ele me conduziu a um lugar entre as pedras para que eu visse um grosso e enferrujado cabo de aço que era atrelado ao possante veículo. Impressionante! Aquilo estava lá desde a metade do século XX!
Subindo um pequeno morro, logo avistei uma casa de pau-a-pique que expelia uma fumacinha pela chaminé. No varal, algumas peças simples de roupas nodosas indicavam a pobreza de seu habitante. Um cachorro sem raça definida não demonstrou nenhuma vontade de latir. Era só alegria. Ao redor só um mandiocal entre tocos calcinados. No caminho que seguia para o rio, bem na beira, havia um forno de barro. Ali o Dito Nunes fazia carvão. Ao nos avistar, ainda com um cigarro de palha no canto da boca, nos acolheu com um sorriso. Logo estava nos oferecendo bananas e se desculpando por não ter café no momento. Mesmo assim, de algumas folhas de capim-cidrão, preparou um gostoso chá para acompanhar uma panelada de mandioca cozida.
Foi com o Dito Nunes e com o Chico Lopes que eu aprendi da cabreuva, da sassafrás, timbuíba e de tantas outras madeiras. Lá, pela primeira vez, admirei uma araponga e tantos pássaros desta terra (Ubatuba).
Hoje, aquele mato desapareceu entre as casas pobres dos migrantes, sobretudo vindo do Estado de Minas Gerais. O Dito faleceu. Somente o Chico continjua passando por ali para chegar ao seu refúgio no meio da Serra do Mar, perto da Cachoeira das Pedras Brancas. Você não conhece esta maravilha?
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