domingo, 29 de abril de 2012

OPÇÕES DA TERRA




                Ontem, conforme uma combinação, eu fui com o Júlio visitar o primo Elias, o tocador retraído. A intenção era conversar um pouco e escutar uns ponteados de cavaquinho e viola, além de uns lamentos de rabeca. E os dois, mesmo sem ensaio, não fizeram feio. Há tempo a vizinhança não testemunhava sons de saudade. É bom lembrar que, na Rua dos Coelhos, temos parentes do Corcovado, da Fortaleza e de mais lugares.
               A ideia foi minha porque, em outra ocasião, o Elias, ao ouvir falar sobre o Júlio, relembrou dos tempos do programa Ranchinho Caiçara, do tempo do Tony Luís, do João de Sousa, da dona Nena, do João Barreto, da Néia e demais caiçaras que, semanalmente, nos davam um banho de cultura através da emissora Costa Azul. A mamãe chamava aquilo de “uma montoeira de bobajada, de causos pra se rir”.
                De acordo com o Elias, existia uma paixão pela linha cultural, pelas pessoas simples que participavam:  “Eu nunca perdia um programa no sábado à tarde. O rádio ficava ligado em cima da mesa. A minha finada mãe também escutava com muita atenção tudo o que aquele pessoal falava. A gente dava muita risada porque entendia tudo. É pena que não tenha mais. Faz falta!”. Nisso eu me lembrei da tia Maria Estefânia, a mãe do retraído; do tempo em que fomos vizinhos, no morro da Fortaleza. Logo cedo, ao passar pelo terreiro da sua casa, ela, sem sair da cozinha dizia: “Vá dar uma volta na praia, Zezinho. As ondas estão altas, atirando limo na praia. Repare nos caminhos da areia; olhe para o Canto do Recife, depois para o Cambiá. Uma sombra neste lado só pode ser o Genésio. Do outro é o Joaquim, meu irmão”. De vez em quando ela variava as “orientações”; quase sempre acertava. Não sei como conseguia isso.
                Parece que algo mais pode ressurgir dos nossos artistas. O Júlio aventou a possibilidade de agregar o João Barreto (para quem não sabe, este tem uma linda voz, é compositor e ótimo pandeirista). Quem sabe possamos revisitar toadas diferentes e reviver momentos de fraternidade. São opções para juntar os filhos da terra.

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