sexta-feira, 6 de abril de 2012

O INCRÉU ASSUSTA O FREI PIO

Demonstração da religiosidade caiçara - Arquivo Trindadeiros
                Eu já escrevi sobre João Pimenta, o incréu, conforme definição do meu pai. Hoje, acrescento mais um causo dos anos 60, presenciado no Largo do Sapê, bem na porta do armazém do nosso personagem.

                João Pimenta, natural da praia da Mococa, era vizinho da capela do Sapê. Dava-se bem com o pessoal da igreja, tinha amizade com o idealista frei Pio, mas não era de seguir religião porque tinha um lado crítico muito apurado.

                Naquele ano, em plena Semana Santa, pelo motivo de precisar atender o programa na igreja matriz, o ousado franciscano realizou a encenação da Paixão de Cristo na terça-feira, fora dos cânones católicos no entender do João Pimenta. Então, para provocar o frei, ele fez o seguinte comentário, após lhe oferecer um café com cangalha:
               “Pois é, frei, onde já se viu antecipar o sofrimento de Cristo?! Só porque os fiéis do centro, lá da cidade, tem mais dinheiro, se vestem melhor, são mais instruídos, fingem mais emoção etc., eles têm prioridade até nos momentos sagrados?”.
               O frei, todo encabulado pela presença de papai, Lauristano e Élcio no mesmo balcão a escutar a conversa, se enrolou ainda mais na polêmica. Por fim, admitiu, com outras palavras, mais ou menos aquilo que o outro disse.

                Depois de uma gargalhada, dando tapinhas nas costas do frei, o João ironizou: “Hoje mesmo eu vou entrar em contato com o Giovanni Batista Montini, vulgo Paulo VI, em Roma. Ele haverá de saber o que fazer com sacerdote que descumpre as leis canônicas, mesmo neste fim-de-mundo. Agora vá em paz e realize o bem”.

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