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Embarreamento de casa no Ubatumirim - Arquivo Olympio Mendonça |
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Saco das Bananas - Uma roda de capoeira depois de um pitirão |
O
título eu peguei de Machado de Assis; está em Memórias Póstumas de Brás Cubas.
O assunto é meu. O tema pertence a todo mundo. Afinal, quem nunca teve no dia a
dia um aborrecimento humano? Solidariedade é o mínimo que posso oferecer às
pessoas! (É mínimo?).
Solidariedade
muitas vezes é entendida como sofrer junto. Outra vertente é de lutar ao lado
dos injustiçados, visando a construção de um mundo mais justo. Eu prefiro
entender esse conceito como convivência verdadeira.
Tenho
na lembrança os “pequenos” gestos de solidariedade, de proximidade autêntica
nas pobres comunidades caiçaras. Sempre faço questão de descrever, de
retransmitir alguns deles:
1-
Os pitirões (mutirões) eram frequentes em qualquer época para embarrear casa,
ajudar na tiguera, cuidar das redes de pescar, puxar canoa do morro, envaretar
parede, fazer cobertura de casa, armar rancho no jundu, arrancar sapê para
cobertura, escalar e salgar peixe, cortar estrada, fazer aceiro etc.
2-
Muitas farinhadas eram feitas às meias. Quero dizer: alguém que não tinha
viamento (os aparelhos/apetrechos para produzir a farinha de mandioca), ou não
tinha mandiocal, ou tinha os dois, mas não tinha tempo, oferecia a proposta de
produção e partilha ao meio do resultado final. Exemplo: caso a farinhada
tivesse rendido quatro sacos, dois ficava para o dono do viamento e os outros
dois era para quem tinha usado o mesmo. Vi muito isso!
3-
O meu irmão Domingos, assim que aprendeu a falar e a andar bem, se deslocava
com um samburá até a casa da Livina, nossa vizinha mais querida do Sapê, para
pedir ovo quando esse produto faltava em casa. Até os seus últimos dias, a
companheira do finado Leôncio, depois do tio Ezídio, repetia ao enxergar o Mingo: “A mamãe mandou pedir
um ovo emprestado”.
4-
Difícil de esquecer também era a época de preparar a terra para novos roçados.
Famílias inteiras se deslocavam para o trabalho, levavam seus filhos, mesmo a
“miuçalha”, porque assim recebiam os cuidados e iam crescendo em nossos traços
culturais.
Hoje,
o mais comum é desabafar e escutar os desabafos porque existe uma engrenagem
globalizante, disposta a moer todas as particularidades culturais: as
verdadeiras riquezas dos seres humanos.
Enfim,
partilhar das angústias é o que chamo de solidariedade no aborrecimento humano.
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