Eis o saudoso João Paulo, pai da nossa autora de hoje. (Arquivo Kilza Setti) |
Quando eu era criança, os domingos era dia de pegar pregoava para o almoço. Lembro-me muito bem. Papai pegava o samburá e eu já estava de olho colado. Sempre era eu quem ia, pois meu irmão, somos só dois, não sei por que, nunca ia. Eu era muito esperta, pulava na frente dele quando a água da onda descia e ia catar as bichinhas que saiam debaixo de seus pés. Porque é assim o procedimento para facilitar a colheita: enquanto a onda batia, ficava-se remexendo os pés, e, com a água descendo, lá iam elas já se preparando para novamente se enterrarem na areia. Elas são muito rápidas, mas eu não deixava que se escondessem novamente. Isto quando era maré mais cheia. Quando a maré estava vazia, tirávamos "no seco", na areia ainda úmida e era muito gostoso. Cavávamos a areia grossa com a mão, em cordões laterais, paralelas à água . Aí, enfiava na terra somente a parte da polpa dos dedos, porque senão a areia comia a unha da gente. Como era bom sentir nos dedos a casquinha tão conhecida da pregoava presa no leito de areia. Lembro-me da cadência de nossas mãos: rápidas , frenéticas, entrando e saindo da areia fofa. Fazíamos aquele alvoroço nas areias da praia.
De vez em quando papai levava a linha de pesca. Pegava algumas pregoavas maiores ou tatuíra para servir de isca, e, jogando a linhada, não demorava muito e lá vinha parati barbudo, pampo, garabebê, perna-de-moça ou embetara. Quando já havíamos pegado a quantidade necessária de peixe ou pregoava para a refeição, voltávamos felizes para casa, com nosso almoço no samburá, depois de meu sagrado banho de mar.
Coisa boa! Saudades!
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