terça-feira, 10 de abril de 2012

CABEÇA COM CABEÇA

         
                Em meados de 1970, já estudando no “Capitão Deolindo”, nós, meninos, tínhamos uma matéria denominada Artes Industriais, onde aprendíamos de tudo que “desse na telha” do professor Waldirzão: desde primeiros socorros até artesanato em madeira, que tinha muita demanda na época.
                Agora, escrevo de uma eleição final entre os dois melhores trabalhos: de um lado estava a peça do Júlio, filho do Isaías Mendes, “O nosso alfaiate”; do outro estava eu, filho do “Carpinteiro”(Leovigildo), que viajava todos os dias para vir estudar. (Naquele tempo eu morava na praia do Perequê-mirim, distante 10 quilômetros da escola). "Páreo difícil", conforme o professor disse  - e os colegas confirmaram na eleição. Ah! Ia me esquecendo de dizer: outro colega, Milton “Peixe-galo”, natural da Picinguaba, até nos ameaçou alcançando o terceiro lugar.
                O Júlio escolheu a guaiarana para entalhar. É mesmo muito macia! Eu esculpi um toco de ripa de cambará que o papai trouxe da obra (reforma do telhado do Almeida, onde mais tarde surgiu um restaurante por nome de Perequim, cujos proprietários eram Mike e Gustavo). Ficamos duas ou três aulas nessa tarefa. O espaço, onde hoje serve na citada escola como sala de projeção, de reuniões etc., abrigava as grandes mesas e cadeiras resistentes para os trabalhos manuais. Cada um dos alunos tinha um jogo de formão básico, comprado no Bazar Luna. Note bem: era tudo comprado! Não tinha esse assistencialismo governamental de hoje, onde a maioria dos alunos não valoriza o mínimo dos materiais que recebe (“kit do governo”).
                Todos se concentravam nos trabalhos, nunca ninguém ameaçou ninguém com aquelas “armas” em potencial; briga não acontecia naquele espaço. Discussão era sobre futebol, passarinho e pescaria. O que deveríamos produzir: uma cabeça de índio, com acabamento em extrato de nogueira e cera de carnaúba. Todas ficaram belas! É pena que ninguém tenha registrado esses eventos para que as gerações futuras apreciassem e nós pudéssemos recordar (a fim de reforçar as imagens que aos poucos se desgastam em nossas memórias).
                Ainda bem que eu guardei o meu trabalho! E o Júlio fez o mesmo! É um prazer apresentar os nossos produtos que, não demora muito, estarão completando 40 anos.
                Por fim, o Júlio e demais me cumprimentaram pelo resultado. Todos ganharam muito com aqueles momentos de muita camaradagem. São amizades que resistem ao tempo e às distâncias. Agradeço ao Júlio pela imagem e pelo incentivo a escrever esse fato comum em nossas histórias.

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