Em meados de 1970, já estudando no “Capitão Deolindo”, nós, meninos, tínhamos uma matéria denominada Artes Industriais, onde aprendíamos de tudo que “desse na telha” do professor Waldirzão: desde primeiros socorros até artesanato em madeira, que tinha muita demanda na época.
Agora, escrevo de uma eleição final entre os dois melhores trabalhos: de um lado estava a peça do Júlio, filho do Isaías Mendes, “O nosso alfaiate”; do outro estava eu, filho do “Carpinteiro”(Leovigildo), que viajava todos os dias para vir estudar. (Naquele tempo eu morava na praia do Perequê-mirim, distante 10 quilômetros da escola). "Páreo difícil", conforme o professor disse - e os colegas confirmaram na eleição. Ah! Ia me esquecendo de dizer: outro colega, Milton “Peixe-galo”, natural da Picinguaba, até nos ameaçou alcançando o terceiro lugar.
O Júlio escolheu a guaiarana para entalhar. É mesmo muito macia! Eu esculpi um toco de ripa de cambará que o papai trouxe da obra (reforma do telhado do Almeida, onde mais tarde surgiu um restaurante por nome de Perequim, cujos proprietários eram Mike e Gustavo). Ficamos duas ou três aulas nessa tarefa. O espaço, onde hoje serve na citada escola como sala de projeção, de reuniões etc., abrigava as grandes mesas e cadeiras resistentes para os trabalhos manuais. Cada um dos alunos tinha um jogo de formão básico, comprado no Bazar Luna. Note bem: era tudo comprado! Não tinha esse assistencialismo governamental de hoje, onde a maioria dos alunos não valoriza o mínimo dos materiais que recebe (“kit do governo”).
Todos se concentravam nos trabalhos, nunca ninguém ameaçou ninguém com aquelas “armas” em potencial; briga não acontecia naquele espaço. Discussão era sobre futebol, passarinho e pescaria. O que deveríamos produzir: uma cabeça de índio, com acabamento em extrato de nogueira e cera de carnaúba. Todas ficaram belas! É pena que ninguém tenha registrado esses eventos para que as gerações futuras apreciassem e nós pudéssemos recordar (a fim de reforçar as imagens que aos poucos se desgastam em nossas memórias).
Ainda bem que eu guardei o meu trabalho! E o Júlio fez o mesmo! É um prazer apresentar os nossos produtos que, não demora muito, estarão completando 40 anos.
Por fim, o Júlio e demais me cumprimentaram pelo resultado. Todos ganharam muito com aqueles momentos de muita camaradagem. São amizades que resistem ao tempo e às distâncias. Agradeço ao Júlio pela imagem e pelo incentivo a escrever esse fato comum em nossas histórias.
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