domingo, 17 de julho de 2022

ENSINAMENTOS DO TIO CLEMENTE

Tio Maneco Armiro - Arquivo Kilza Setti


    Tio Clemente, caiçara autêntico da praia da Fortaleza, gostava de reunir os mais jovens para ensinar algumas lições, sobretudo aquelas que giravam em torno da religião. Ele, católico praticante, acreditava que era a concordância da fé com o conhecimento que fazia o verdadeiro cristão. Vou tentar transcrever mais ou menos um discurso dele naquela tarde de domingo distante, ali na cozinha do Nhonhô Armiro:

    “Nós temos que chamar as coisas pelos nomes que elas têm. Quem apoia ladrão é ladrão, quem apoia terrorista é terrorista. Vocês devem ter escutado as últimas notícias pelo rádio, as coisas por aí afora não está nada fácil, mas os cristãos devem se contrapor a essa violência, defender a paz acima de tudo. Qualquer pensamento que nos desvie disso é uma seita, como se estivesse nascendo outra religião”. E por aí seguia. Eu sempre ficava caladinho, só escutando, mas prestava também muita atenção às perguntas que os outros iam fazendo ao querido tio que nos deixou há bastante tempo.

    A reflexão de hoje parte de chamar as coisas pelos nomes que elas têm. Tio Clemente tinha toda a razão. Neste momento eu acrescentaria: cristão que apoiam armas de fogo são terroristas e não cristãos. Portanto, estamos assistindo uma seita crescendo no Brasil, se associando com igrejas cristãs (católicos, evangélicos etc.), falando contra o pacifismo, frontalmente oposta às organizações que defendem a paz e pedem por mais justiça social. Me pergunto: o que essa seita fascista pretende para o Brasil, para os brasileiros?

    Constato que essa seita está cooptando gente da cultura popular, das minorias discriminadas; gente que diz “amar a Deus sobre todas as coisas”, mas que executa irmãos e cumpre o compromisso com o ódio (a base da seita). Além de chamar as coisas pelos nomes que elas têm, Tio Clemente, nós deveríamos ficar alertados e se posicionar como uma barreira a esses atos de terrorismos que veem ocorrendo pelo nosso país. O que será de nós caso essa seita continue se alastrando e detenha por mais tempo o poder graças ao enfraquecimento/corrupção das instituições e da Constituição? O senhor tinha toda razão em nos ensinar, em fortalecer em nós uma moral comunitária. Agora, acrescento a contribuição de outro Clemente, da cidade antiga de Alexandria: “Acrescida à fé, a filosofia não torna a verdade mais forte, em si mesma, mas torna impotentes os ataques dos inimigos da verdade, constituindo portanto um válido baluarte de defesa”. Ah! Estava me esquecendo das complementações do Tio Maneco Armiro naqueles bons momentos de prosas! Saudades desse pessoal todo. Viva a memória!

Nenhum comentário:

Postar um comentário