sábado, 2 de julho de 2022

O AMOR VENCEU

Praça Nóbrega e suas magnólias - No canto inferior esquerdo o templo presbiteriano - Arquivo Ubatuba


     Dando prosseguimento ao caso da bomba em Ubatuba, onde católicos e presbiterianos viviam em desentendimentos, continuei lendo o que o Seo Filhinho tinha a nos contar. Então encontrei algo mais forte que essas picuinhas religiosas: um caso de amor diminuiu as tensões entre os dois grupos e a Igreja Presbiteriana finalmente ocupou um lugar de destaque, na praça da cidade, próxima da cadeia pública (onde hoje é o museu que homenageia o Seo Filhinho – Washington de Oliveira). O meu saudoso parente Mané Bento, sentado debaixo de uma daquelas magnólias da praça, me contou um dia: “Esses crentes receberam dinheiro até do estrangeiro para fazer aquela igreja bonita”. Mas vamos aos enamorados:

      Conta-se que José Joaquim Fernandes, o precursor dos presbiterianos, enamorou-se de uma jovem católica, cujo casamento, por imposição da família desta, só se realizaria se ele renunciasse à nova seita e recebesse sua pretendida esposa aos pés do altar, com todos os sacramentos da fé católica. O amor venceu. No sábado aprazado, com grande manifestação de júbilo por parte da grei católica, José de Lima e Maria receberam-se em matrimônio pela Lei de Deus, na Igreja Matriz local.

     O amor venceu, é verdade, mas...por pouco tempo. No dia seguinte, domingo, o venturoso par caminhou de mãos dadas para a Igreja Presbiteriana, na qual ambos se integraram, convictos, e da qual nunca mais se separaram.

    José de Lima não sobreviveu por muito tempo. Dona Mariquinha, viúva, mais tarde contraiu segunda núpcias com o católico Antônio Joaquim Garcia e em perfeita harmonia aguardaram que o tempo lhes indicasse o caminho que ambos, juntos, deviam trilhar no campo espiritual.     Tito Garcia, carinhoso apelido que lhe dedicava a população local, acabou aceitando a religião da esposa, professando-a até o final de seus dias. (Sérgio Coelho e Fátima, um casal que tenho em alta estima, repetiria história semelhantes na década de 1980).

    Segundo o mesmo Mané Bento, “o Antônio Trajano foi um pastor deles muito estimado, converteu muita gente e deixou saudades”. O nosso caiçara escritor-farmacêutico (Seo Filhinho) completa a memória do meu parente:

    Depois do Antônio Trajano por aqui passaram muitos outros pastores de alto gabarito, entre eles os Reverendos: Erasmo Braga, um dos pioneiros do movimento ecumênico no Brasil; Gastão Boyle, editor do semanário O EVANGELISTA; Salomão Ferraz, mais tarde sagrado Bispo Anglicano e que aderiu ao catolicismo, como Bispo Titular da Eleuterna [ou Eleuthera?]; e José Borges Sobrinho, notável orador e membro do Conselho Deliberativo da Universidade Mackenzie de São Paulo.

 

 

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