quarta-feira, 22 de julho de 2020

SÓ TEM TAMANHO!

         
O nosso cachorro (Arquivo JRS)

           "Amanhã cedo você não põe roupa no varal porque eu senti um cheiro forte de sabão, vai ser preciso dar mais uma enxaguada, senão depois ninguém aguenta usar”.  Esta recomendação da minha companheira me levou a pensar a respeito de sabão. Jorge, o nosso grande amigo baiano, certa vez nos contou que a sua mãe e outras mulheres de Iaçu faziam sabão a partir de restos de animais e cinzas. “Andavam pelos campos em busca de animais mortos. Depois ferviam tudo e acrescentavam cinzas. E ficava pronto o sabão usado para tudo lá em casa”.

            Tal como as matriarcas baianas, vovó Martinha, caiçara de outro tempo, também usava cinza na química do sabão usado por nós. Só que, em vez de gordura animal, ela quebrava os caroços de nogueira (as nogas), juntava aquela massa à cinza e logo estava pronto para ser usada na composição. A netalhada, gente miúda, ajudava na catação das nogas no terreiro da tia Rita Carlota, onde o sombreado maior era de duas enormes e frondosas nogueiras no areal.  A referida massa também servia como combustível  nas candeias. “Bastava um pavio enfiado nela. Depois que acendia, durava muito tempo aquela luz”.  Coisas assim retidas na memória voltam a despertar quando são estimuladas. Por exemplo: é só passar na estrada das Toninhas, no lugar onde nasceu o meu amigo Rubens Prado Gil,  ao avistar as grandes nogueiras plantadas pelo Velho Gil, já me lembro do sabão da vovó. 

           Afirmei à minha Gal que eu não senti cheiro algum ao passar perto das roupas lavadas. “O seu nariz não vale nada, só tem tamanho!”. Então me defendi alegando que é por causa do excesso de pimenta. Se espantou? Pois é! Os antigos caiçaras diziam que não se podia dar comida apimentada aos cachorros. O motivo? Estraga o faro deles. Vovô Armiro constantemente ralhava conosco: “Nada de comida com pimenta para o Peri. Ele tem faro aguçado e é bom caçador. Por isso não me estraguem esse cachorro”.

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