Imagens do monumento na entrada da cidade de Caraguatatuba (Arquivo C. Lunardi) |
Depois de décadas, voltei ao
sertão do Perequê-mirim para trabalhar com mel, no espaço do Álvaro Prado. Merece
elogios o seu lugar de trabalho totalmente azulejado, a centrífuga moderna e os
demais utensílios de trabalho na medida. Caprichoso esse meu amigo apicultor! Porém, o
que mais me impressionou foi a grande concentração de gente naquele lugar. Nos
quilômetros, margeando a estrada, desapareceu todo aquele verde abundante da
minha infância. Casas e mais casas parecem querer sufocar a longa passagem. Nem
o rio cascalhento de outrora eu consegui avistar. Que contraste!
Nas minhas lembranças, a região
que agora tem milhares de habitantes, está vazia, com poucas famílias em suas
humildes casas, distantes umas das outras. Nesse quadro de outro tempo, ao lado
da ponte, a primeira habitação pertencia ao Bráz. É numerosa a sua prole (Maria, Josué,
Sara...). Do outro lado do rio, no morro oposto, após a várzea, acabaram de
chegar do Ubatumirim a dona Júlia e seo Dito com seus muitos filhos (Santina, Valdemar,
Agenor, Jorge...). (Até vou deixar isto de lado, pois nenhuma família tinha
poucos filhos ali). Pela estrada, logo após um roçado, morava seo Dionísio (pai de
Adônis, Hélio...), gente com todos os traços indígenas possíveis. Seguindo um
pouco mais, no começo do morro, perto da outra ponte que dá acesso à pedreira
da Aragon, estava duas moradias juntas: uma do Geraldo e outra do Zico, que
trabalhava no DER (Departamento de Estradas de Rodagem). As crianças dali (Antônio,
Raul, Ismael...) também estudavam comigo. Logo acima, no começo do morro, se acomodava a família da dona Maria, mãe da Jandira, Zé, Euclides, Horácio... Também por ali estava o pessoal da Odeva, Valdomiro e Manoel. Da pedreira enorme se extraia a matéria-prima levada para ser britada no local onde é hoje a escola (Florentina). Montanhas de
diversos tamanhos tomavam todo o espaço. Depois se comporiam no asfalto, na
renovação da pista entre as duas cidades (Ubatuba e Caraguatatuba). Aragon era
a empresa de engenharia, cujo proprietário era o doutor Araújo. A casa dele foi
construída ao lado do seo Peter, na praia. Mas, voltando às lembranças do
sertão, após os últimos moradores citados, vinha um morro bravo, com muitos
mandiocais. Lá no alto se instalava a família do Dito Funhanhado e do Elídio, seu
irmão, oriundos de Paraty. É de onde vem a denominação que se mantém até hoje:
Morro do Funhanhado. Alguns anos depois chegaram os meus parentes expulsos da Caçandoca: tio
Roque, Dito da Mata e irmãos. Cerca de dez famílias viviam ali. Ah! Também depois, vindo de Itatiaia (RJ), se compôs no espaço o Velho Faria de Lima. O espaço garantia um
certo isolamento com relativa autonomia. Resumindo: me assustei; mudanças
demais para mim.
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