Uma canoinha repleta de boas lembranças (Arquivo JRS) |
Na segunda metade da década de
1980, Vera e Pedro, originários de Santos e de São Luiz do Paraitinga, foram trabalhar como professores na Ilha dos
Búzios. Logo estavam bem integrados à comunidade caiçara dali. A ilha tinha pouco
mais de duzentos habitantes: ilhéus e ilhoas; gente simples, vivendo da pesca e
da roça. Repletos de boa vontade, profissionais autênticos, o compadre e a
comadre foram aprendendo as coisas de caiçara daquela ilha que pertence ao
arquipélago da Ilha de São Sebastião.
O que denominamos por artesanato, capaz de causar admiração aos turistas, são peças utilitárias, práticas (pito, esteira, balaio, bodoque, covo etc.) e de lazer (pião, peteca, bilboquê etc.). Cada objeto e cada manifestação, pela tradição secular, ao ser realizado na comunidade caiçara, sempre teve a serventia de transmissão, de ensino para todos da comunidade, sobretudo aos mais novos. Exemplos: meu avô Armiro, exímio na cestaria, de vez em quando, quando havia necessidade de mais balaios, samburás etc. buscava taquaras na mata do Cedro e se dedicava uma semana inteira só trabalhando no terreiro. Nós, rodeando ele, fomos aprendendo e admirando a arte que veio dos índios. Ao mesmo tempo estávamos sempre dispostos em auxiliá-lo nas tarefas menores. Estevan, o outro avô, mais paciente e contador de histórias, nos levava na busca de material no mato. O último trabalho dele, antes de amputar uma perna, foi buscar taboa para confecção de esteiras. Lógico que eu fui junto! E lá estávamos nós no brejo ajuntando as plantas, cortando e espalhando para a secagem. Ao sair da água, um facão era usado para desgrudar sanguessugas de nossas pernas. Coisa normal. Três dias depois, já na varanda da casa dele, lá estava eu aprendendo a técnica do vovô.
O que denominamos por artesanato, capaz de causar admiração aos turistas, são peças utilitárias, práticas (pito, esteira, balaio, bodoque, covo etc.) e de lazer (pião, peteca, bilboquê etc.). Cada objeto e cada manifestação, pela tradição secular, ao ser realizado na comunidade caiçara, sempre teve a serventia de transmissão, de ensino para todos da comunidade, sobretudo aos mais novos. Exemplos: meu avô Armiro, exímio na cestaria, de vez em quando, quando havia necessidade de mais balaios, samburás etc. buscava taquaras na mata do Cedro e se dedicava uma semana inteira só trabalhando no terreiro. Nós, rodeando ele, fomos aprendendo e admirando a arte que veio dos índios. Ao mesmo tempo estávamos sempre dispostos em auxiliá-lo nas tarefas menores. Estevan, o outro avô, mais paciente e contador de histórias, nos levava na busca de material no mato. O último trabalho dele, antes de amputar uma perna, foi buscar taboa para confecção de esteiras. Lógico que eu fui junto! E lá estávamos nós no brejo ajuntando as plantas, cortando e espalhando para a secagem. Ao sair da água, um facão era usado para desgrudar sanguessugas de nossas pernas. Coisa normal. Três dias depois, já na varanda da casa dele, lá estava eu aprendendo a técnica do vovô.
A minha canoinha veio de Búzios;
é daquela época. Foi obra de Seo Ditinho, da localidade chamada Guanxumas. Ao
receber tão valioso presente, a recomendação: “Você pinta nas cores da sua preferência e põe o nome que seja adequado
e carregado de boas recordações”. Hoje,
a graciosa peça carrega o nome da minha Gal. Às boas recordações desses
estimados (Seo Ditinho, Pedro, Vera, Sibila, Pedrinho...), se somaram a minha
companheira, a minha filha e o meu filho. Tudo boas lembranças! Tudo sendo
cultivado como inesquecíveis e perpétuas lembranças!
Olho para ela agora em minha mão.
Mesmo longe da ilha, em terra há muito tempo, essa pequena peça está abarrotada
de boas lembranças. Que bom!
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