Na prateleira, como recordação (Arquivo JRS) |
O finado tio Chico Félix sempre
foi muito estimado em nossa família. É porque ele tinha carinho por nós e
costumava passar em nossa casa, mesmo que fosse às pressas, para deixar algum
agrado e tomar um cafezinho. O mar era o seu ambiente natural. Nenhum tempo
ruim era capaz de segurá-lo quando cismava de romper a arrebentação das ondas,
principalmente se estivesse embalado pela “pinguinha
nossa de cada dia”, conforme era costume dizer. Aí que ficava mais
destemido!
Era parte do ritual dele, ao passar
em casa, deixar ao menos um peixe. “É
para a mistura, cunhada”, se dirigindo à mamãe. Não demorava muito porque
sempre foi homem de pouca conversa. Vovó Martinha se preocupava muito com ele para
evitar que fizesse coisas erradas. Isto porque, quando bebia demais e minguava
o dinheiro, tio Chico cismava de fazer uma catação de plantas pelos quintais
para vender aos turistas e beber mais ainda. Coitado do titio!
Durante um longo tempo, tio
Chico arrumou parceria com o Mané Ramiro, outro que vivia trançando as pernas,
cercando galinha pelos caminhos. Nesse tempo, as preocupações da vovó
aumentaram: “Agora são dois que tenho de
cuidar”. Imagina só: dois adultos, pais de filhos casados, dando trabalho
para uma pessoa idosa. Podia isso?
Tio Chico e Mané Ramiro
regulavam a mesma idade e tinham igual tempo tanto na carreira de pescar como
na vida de bebedeira exagerada. Na minha opinião, nenhum dos dois tinha mais
mérito que o outro. “Medalha de ouro para
os dois!”. Porém, certa vez a vovó desabafou comigo: “Sabeis porque o vosso tio bebe tanto? É porque anda na companhia do
Mané Ramiro! É na escola dele que ele aprendeu levar essa vida porca. Não
precisa muito empenho para sair da escola do Mané Ramiro licenciado no vício da
mardita pinga”. O que eu poderia fazer após escutar a fala dela? Só pensei:
“Capaz mesmo! Até parece que é verdade!
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