domingo, 5 de julho de 2020

DEFESA DE NARRATIVA

Este céu é o nosso céu (Arquivo JRS)


                Vemos que, no caso do Brasil, um genocida ligado às milícias foi eleito para ser governante. Agora, cabe a nós entender porque um país, onde a maioria é religiosa, tomou o caminho do ódio. Como explicar isso? Que mística é essa? “O caminho largo é o caminho da perdição. Então será esse eleito o sinal de que tomamos o caminho estreito?”. O presidente que aí está nunca deixou de se mostrar em suas convicções. Digo mais: se fosse observado, de fato, a Constituição, ele nem poderia ter um cargo público pelas ofensas às minorias, apologia ao ódio e coisas piores. Portanto, ninguém pode alegar ignorância. (Mesmo sabendo que, contrário ao conhecimento, a ignorância é gratuita). Ou seja, foi opção mesmo! Mas por que isso aconteceu? Para entender o fenômeno, temos de nos ater às propagandas que atacaram outra opção de governo, onde estava sendo dado importantes passos para superação das gritantes desigualdades sociais. Também devemos saber que os interesses dos Estados Unidos comandavam tudo, sob a alegação de combate à corrupção, usando um juiz brasileiro que nem argumentar com lógica sabe, mas que se presta a o papel de fantoche. Se agora abandonou o barco, é porque seus planos não se encaixaram nas ambições do mandatário-mor.

               O que me faz abandonar hábitos comunitários para dar um valor supremo ao egoísmo, à ambição de lucros a qualquer custo? O que me torna defensor de “quem puder mais chora menos”, de “levar vantagem acima de tudo”? Entenderei isso se me ater à guerra de narrativas.  A palavra nos fez ser tudo o que somos hoje e fará também o nosso amanhã. A palavra faz parte do processo civilizatório, que permite expandir nossos valores ou nossos erros.  Por isso, sabendo que tanta gente boa nunca parou para pensar a respeito das narrativas que nos cercam - e das nossas narrativas caiçaras! -, vou transcrever um “bicho de sete cabeças” que produziu medo e uma manada obediente à mídia, elegendo um desequilibrado para chefe  supremo da Pátria.  Trata-se do comunismo.

              Segundo os estudos, a palavra comunismo se origina da palavra latina comunis  (comum). Esse termo indica, em geral, as doutrinas que descrevem uma sociedade baseada na abolição da propriedade privada e na coletivização dos meios de produção. É uma ideia presente na filosofia grega clássica, mais precisamente na obra República, do filósofo Platão. De acordo com Nicola Abbagnano, na Idade Média cristã algumas seitas, banidas da Igreja oficial, professam o comunismo em nome dos ideais de igualdade e fraternidade do Evangelho: é o caso dos cátaros no Languedoc e dos seguidores de Dulcino no norte da Itália. Lógico que, grupos assim não poderiam ser tolerados dentro de uma estrutura de poder ambiciosa de cada vez mais riquezas!  Mais tarde, duas obras marcam o início da Idade Moderna: Utopia (de Thomas Morus) e Cidade do Sol (de Campanella). O que pretendiam eles? Retomar a narrativa socializante das comunidades primitivas! Outros, na mesma linha, vieram depois. Agora, na Idade Contemporânea, Marx e Engels debatem os pontos de uma futura sociedade socialista. Ou seja, lançam os princípios para realização de uma utopia. Imaginaram que os trabalhadores seriam capazes de governos mais justos. Porém, na prática, os modelos predominantes de revoluções socialistas se perderam na gestão estatal- burocrática da economia, reproduzindo uma elite que deixou de ouvir os trabalhadores e as necessidades das minorias. Não tinha como se manter sociedades dessas, assim como é intolerável sociedades que fomentam o individualismo, o ódio e o lucro acima de tudo. Porém, de sociedades onde a partilha e a vida em comum eram valores primários, a História tem vários exemplos.

          Qual narrativa de sociedade fomentar? É a de ódio que aí está eleita ou a dos que compartilham seus alimentos com os mais pobres? Qual planeta queremos deixar para as novas gerações? Nossas utopias caiçaras se baseiam em nossas primeiras experiências comunitárias. Logo, elas são bases para procurarmos o conhecimento que as fortaleçam, que permitam reforços em nossas narrativas.  Quem é capaz de ser feliz sozinho, vendo o infortúnio alheio? Quem é feliz constatando a destruição ao redor?  É por isso que se fala em guerra de narrativas! Que tal redefinir e reforçar nossas narrativas comunitárias?

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