Dias atrás, escutando o valoroso
Miguel Nicolelis (Nicolelis Night News), fiquei sabendo o quanto foi importante
a sua vó materna na sua formação. Quantos têm uma vó assim!?! “Eu tinha todo um quintal, bichos, livros,
televisão...Eu era o rei da casa! Em tudo a minha vó Lygia me apoiava e
incentivava, inclusive na decisão de ser cientista após terminar o curso de
medicina”. Assim, nós temos este grande cientista, capaz de contar boas
histórias, tal como a sua mãe Giselda Laporta Nicolelis. Vale a pena conferir!
Comecei dessa maneira porque no meu
mundo, assim como no seu, quantas vezes não escutamos frases deste teor (“Não é para você!”)? Geralmente quem diz
coisa assim está na defensiva (porque teme concorrência, tem “culpa no cartório”,
acha que pode continuar se aproveitando dos outros, quer se redimir
desmerecendo o outro etc.). Na sociedade, desde a família até o governante, é
emblemática essa frase.
Não é para você porque é para poucos, os escolhidos? Ou por que, tendo
isso você pode se destacar muito, ganhar mais autonomia? Será ainda porque,
suas ações, tanto pretéritas quanto ainda hoje, são contraditórias aos
princípios de justiça, de bondade? E se,
na verdade, a pessoa que dar um golpe maior, bem mais baixo do que o anterior,
deixando outros a só ver as ondas na praia? Ah! Quantas possibilidades ainda
são possíveis para quem afirma tal frase?!?
Minha vó Eugênia nunca deixou de
ser uma testemunha de respeitar, de acolher as pessoas e de ouvir as suas
opiniões. Nunca fui capaz de imaginá-la dizendo “não é para você”. Na sua simplicidade, ela se abaixava para nos
escutar e para contar histórias. Na sua confiança, ela nos levava ao trabalho ao
redor da casa, na costeira e na roça. E como incentivo, nos deixava fazer
aquilo que estava fazendo. Assim aprendemos a colher café, secar, pilar para
destacar a casca, torrar e moer; escolher as palhas para as tranças de chapéu;
cuidar da criação (galinha, porco...); consertar
(limpar) peixe no rio etc. etc. Meus pais também, vendo a teimosia em mim,
deixavam margens para iniciativas. “Então
tenta, vai! Faz do seu jeito!”.
A
vovó, bem diferente da vó do Nicolelis (do centro da capital paulista) que até
tocava piano, adotava os mesmos princípios: incentivar os pequenos, escutar os
mais novos. Hoje, se consigo ser ainda desafiado a melhorar o meu ser e o
mundo, reconheço que devo me espelhar em exemplos que seguem, em seus devidos
papeis, os princípios da minha vovó de nos valorizar, de nos estimular. Gente
assim, tal como o Nicolelis, jamais dirá: “Não
é para você!”. Obrigado, doutor, pelo bom exemplo!