Cotidiano de um ilhéu (Foto de Lucas Lima) |
Eu
nasci num tempo onde os laços entre os ilhéus e os caiçaras de terra, em
Ubatuba, eram bem fortes. O primo
Eugênio, nativo da ilha do Mar Virado, narrava a vida que levava na ilha da Vitória,
tio Nelson e tio Salvador descreviam suas idas e vindas regulares para dar
atendimento aos ilhéus, Pedro Cabral, em seu armazém, no Perequê-mirim, era uma
referência aos “vitoreiros”, Pedro e Vera, durante seis anos, viveram
ministrando suas aulas na ilha dos Búzios. Ambas (Vitória e Búzios) fazem parte
do arquipélago de Ilhabela. Em outros textos eu já descrevi mais detalhadamente
outras situações desses caiçaras que se
adaptaram às ilhas mais próximas de nós. Tem até a história do russo que por lá
foi acolhido há muito tempo, sem que ninguém saiba ao certo qual foi o roteiro
que o trouxe de tão longe para se acaiçarar na ilha da Vitória. Hoje vou
reproduzir uma parte de um texto que encontrei na revista Veja São Paulo, de 05/02/2014,
texto de Angela Pinho e fotos de Lucas Lima.
Para
ensinar história, o cenário ideal poderia ser Búzios ou Vitória, a 28 e 40 quilômetros
de Ilhabela, respectivamente. Ao chegar, o visitante tem de chamar algum
morador para buscá-lo em uma canoa a remo. É a única embarcação que consegue
atracar no “porto”: uma fileira de tábuas de madeira em cima das pedras. Há nas
duas ilhas resquícios de antigos cemitérios indígenas datados da pré-história.
Os atuais moradores misturam traços desses primeiros habitantes com os de
europeus, mas nunca se soube direito como os estrangeiros foram parar no local.
Um trabalho da arqueóloga Cíntia Bendalozzi pode ajudar a esclarecer o
mistério. No fim do ano passado, ela encontrou um documento que mostra a doação
de Búzios, no século XIX, para um filho de portugueses. Nos próximos meses, a
especialista fará expedições para se aprofundar na investigação. “Há relatos de
caiçaras sobre a presença de grande volume de louça em meio a ruínas de pedra e
cal”, afirma Cíntia.
Ali,
os moradores plantam o que come em roças e criam galinhas. Em Búzios, há dois
mercadinhos, onde se compra de macarrão a bebida. Uma garrafa de Velho Barreiro
custa 11 reais, quase o dobro do que em Ilhabela. A inflação da cachaça não incomoda,
pois o consumo caiu desde a chegada da igreja evangélica Congregação Cristão no
Brasil, há mais de uma década. “Todo junho tinha festa com forró e quentão.
Agora a maioria é crente”, afirma o pescador Olegário Costa, um dos poucos que
não se converteram.
Como
não há posto de saúde nesses lugares, a cada trinta ou quarenta dias, uma
equipe da prefeitura de Ilhabela aparece por lá com médico, enfermeiros,
dentista e psicólogo. As mulheres costumam ter filhos no continente,
principalmente desde que uma das moradoras de Búzios morreu no parto, em 1980. “Ela
tentou ir para o hospital na última hora, mas o mar não deixou”, lembra
Benedita Costa, de 51 anos. “A criança sobreviveu, ela não”. A mãe de Benedita
também passou por um aperto há quinze anos, quando levou uma picada de cobra.
Acabou salva com ajuda de um helicóptero da Marinha.
Que
tal visitar a minha publicação de 17/03/2011 (A vitória foi dos peitos)?
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