sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O HOMEM DO SACO

Eu e Avedis (Arquivo JRS)

               Numa distante tarde com pessoas queridas, eu e o amigo Avedis, caiçara do Perequê-açu, conversávamos sobre a simplicidade do nosso tempo de criança, onde a família extensa (avós, pais, tios...) era o eixo principal da nossa educação.  Lembramos de uma história em comum daquele tempo. Assim entramos no tema da educação.
               Educar assustando: eu desconfio que em outros lugares além do nosso existiu  (ou continua existindo) esta metodologia. Eu também escutei a história do Homem do saco! Pelo que nos falavam, era um andarilho. Ninguém sabia de onde vinha nem pra onde ia, mas uma coisa era certa: pegava crianças desobedientes.
               A nossa mãe nos alertava para não andar sozinha ao escurecer. “Um homem velho, com barba grande, fedido ao extremo, passa de vez em quando pegando as crianças que perambulam sozinhas, fora de hora. Ele tem um saco sujo às costas, onde põe as crianças. Depois as leva para um lugar misterioso, que ninguém sabe onde é. Aquelas crianças que ele pega nunca mais voltam para suas casas, desaparecem”.
               Não me lembro se eu tinha muito medo. Acho que não, mas... ao avistar um desconhecido barbudo, eu logo tomava outro rumo, entrava no mato, me escondia. Recentemente um primo me confessou: “Eu sempre tive medo do homem do saco; por isso sempre andava acompanhado por mais alguém, de preferência mais corajoso do que eu. Tudo por causa desse homem do saco que eu nunca vi, mas que talvez exista”.
               Hoje digo que nossas mães estavam nos educando com tal história. Não era muito agradável essa pedagogia assustadora, né? Mas era assim no senso comum do nosso lugar. E a gente foi aprendendo a escolher os momentos mais propícios para sair com tranquilidade de casa, a selecionar as amizades e os lugares onde os riscos eram menores.

               E o meu querido amigo Avedis,  caiçara e frei franciscano -  encerrou a prosa: “Tantas histórias e tantos encantos!”.

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