quinta-feira, 9 de novembro de 2017

BALAIO DE GATO

Travessia no Castelhanos (Arquivo Rê)

               O meu pessoal antigo usava a expressão “balaio de gato” para dizer que a coisa era confusa, embaraçada, muitas coisas juntas num só espaço, gente de diferentes lugares convivendo juntos etc.
               Em certa ocasião, em meados de 1994, desembarquei à tarde na Ilhabela com destino à casa dos amigos Vera e Pedro Antônio. Do Engenho Velho até o endereço deles tem um bom pedaço de chão para andar, cerca de trinta minutos para não ficar de brincadeira pela estrada de terra. Logo fiz amizade com um caiçara que iria bem mais além, para a praia dos Castelhanos. Seu nome: Décio. Levava umas compras num saco branco, desses de farinha de trigo. Ou seja, tinha uma longa jornada pela frente, iria escurecer antes mesmo que estivesse na metade do caminho. “Eu estou acostumado; sempre atravesso de um lado pro outro”. Sujeito agradável! Gente da gente! E eu, conforme o hábito, fui escutando e especulando. Nem percebi o tempo e a distância. Achei bem interessante a história do Décio.

               “Meus pais sempre fizeram questão de contar as histórias deles, desde os seus antepassados: de onde vieram e como as coisas aconteceram naquela época. Por parte de mãe, meus bisavós eram gente da África e foram trazidos como escravos para o Brasil. Ficaram no Castelhanos após um naufrágio. Hoje são muitos os seus descendentes. Por parte de pai, eram italianos da região de Nápoles, comerciantes que tiveram de vir para cá por causa de guerras na terra deles. Foi aqui na ilha que os meus pais se conheceram, se casaram, tiveram nós (oito filhos) e nunca mais saíram daqui. Castelhanos é um pouco longe de tudo, mas a gente está acostumado a andar por terra e por mar”.

               Me despedi dele com aquela sensação de que nunca mais o veria. Triste, né?!?

                Que balaio de gato, gente!

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