Travessia no Castelhanos (Arquivo Rê) |
O
meu pessoal antigo usava a expressão “balaio de gato” para dizer que a coisa
era confusa, embaraçada, muitas coisas juntas num só espaço, gente de
diferentes lugares convivendo juntos etc.
Em
certa ocasião, em meados de 1994, desembarquei à tarde na Ilhabela com destino
à casa dos amigos Vera e Pedro Antônio. Do Engenho Velho até o endereço deles tem
um bom pedaço de chão para andar, cerca de trinta minutos para não ficar de
brincadeira pela estrada de terra. Logo fiz amizade com um caiçara que iria bem
mais além, para a praia dos Castelhanos. Seu nome: Décio. Levava umas compras num
saco branco, desses de farinha de trigo. Ou seja, tinha uma longa jornada pela
frente, iria escurecer antes mesmo que estivesse na metade do caminho. “Eu estou acostumado; sempre atravesso de um
lado pro outro”. Sujeito agradável! Gente da gente! E eu, conforme o
hábito, fui escutando e especulando. Nem percebi o tempo e a distância. Achei
bem interessante a história do Décio.
“Meus pais sempre fizeram questão de contar
as histórias deles, desde os seus antepassados: de onde vieram e como as coisas
aconteceram naquela época. Por parte de mãe, meus bisavós eram gente da África
e foram trazidos como escravos para o Brasil. Ficaram no Castelhanos após um
naufrágio. Hoje são muitos os seus descendentes. Por parte de pai, eram
italianos da região de Nápoles, comerciantes que tiveram de vir para cá por
causa de guerras na terra deles. Foi aqui na ilha que os meus pais se
conheceram, se casaram, tiveram nós (oito filhos) e nunca mais saíram daqui. Castelhanos
é um pouco longe de tudo, mas a gente está acostumado a andar por terra e por
mar”.
Me despedi dele
com aquela sensação de que nunca mais o veria. Triste, né?!?
Que balaio de gato, gente!
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