Tia Maria Mesquita e neta (Arquivo Alix) |
A
minha saudosa tia Astrogilda, de acordo com o meu pai, morava no morro da praia
do Pulso: “A casa do tio Anastácio, pai
da tia Astrogilda, era pra cima da barra, no pé do morro. Hoje, a praia do
Pulso, o lugar onde me criei, é só casas de ricaços. Lá a gente nem pode entrar”.
Essa minha tia, que nasceu tão perto do mar (aproximadamente cinquenta
metros), ao morrer habitava o Morro das Moças, bem longe da praia, na rua que
já levava o seu nome: Rua Astrogilda da Conceição. Foi uma tia que me marcou
muito devido à garra de lutar pelos nossos direitos, pela questão das terras da Caçandoca.
Tia
Maria Mesquita foi outra mulher decisiva em muitos momentos da minha vida. Também
nasceu no jundu da praia da Fortaleza. Assim mamãe explicou para nós: “Ali no Canto do Cambiá era a casa do tio
Onofre Mesquita, pai da tia Maria que foi esposa do tio Genésio”. Também
terminou os seus dias longe da praia, no bairro da Estufa II.
A
tia Maria, assim como a tia Astrogilda, caiçara de outros tempos, tinha muita
sensibilidade, percebia as coisas de longe. Um dia, depois de tê-la visitado
com um amigo, esta foi a expressão dele: “A
sua tia tem uma alma nobre, tem algo divino em si”. Creio que essa
percepção decorreu da narrativa da titia a respeito da sua infância, quando
havia muita pobreza. Depois, com o advento do turismo, de como era a sua lida
como doméstica, tendo de andar a pé todos os dias até a praia Vermelha
[distante quatro quilômetros] “para trabalhar
na casa do doutor Paulo Sérgio”.
Entrando
numa preocupação dela naqueles dias, continuou a tia Maria:
“Tem gente que carece de valores. Digo isso
porque aqui perto vejo bem isso quase toda noite quando vou dar uma espiada na
rua: uma moçada, gente daqui mesmo, até os filhos da comadre Maria, fumando
maconha no pé daquele muro ali. Pra quê? Pra quê serve qualquer droga? Digo que
é pra provocar ilusão no pobre! Quem é iludido não enxerga aquilo que deveria
enxergar, leva vida de ovelha”. Então lhe perguntei se aquilo não seria miséria
cultural. E a resposta dela: “Pode ser,
Zezinho. Só sei que é carência de valores! Eu já tentei conversar com esses jovens várias
vezes, mas eles até dão risada das coisas que falo. Na verdade, os pais dessa
juventude, desses jovens, não sonharam eles; foram criados largados, sem nenhum projeto de vida. Como é que posso eu jogar um caroço de milho no cisqueiro, não cuidar e esperar que dê uma bonita espiga?”.
Nisso
me lembrei das palavras do poeta: “Não
adianta ao velho ganhar a discussão com os moços; a vida está do lado dos moços”.
É
isso, tia Maria! Bençãos em sua memória é o que desejo!
Linda homenagem!! Como não lembrar delas com saudades e admiração!! Grande e carinhoso abraço Zé!!
ResponderExcluirÉ nosso orgulho essas nossas raízes, né?
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