domingo, 26 de novembro de 2017

GAVIÃO NO LIXO

Carcará na Cocanha (Arquivo JRS)

               O meu parente Mané Bento, nascido na praia da Fortaleza, conforme eu disse noutra ocasião, se pudesse ter estudado seria um advogado imbatível porque tinha as respostas na ponta da língua. “Com o Mané Bento é assim: bateu levou”, dizia a minha saudosa mãe. Ah! Ele também era muito ardiloso! Vovô Armiro, costumeiramente bronqueado com ele, dizia: “É mais sagaz do que trabalhador esse primo”.
               As respostas desse meu parente eram lógicas, inteligentes e imediatas. Mas isto não é muito comum até hoje! Afirmo isto porque, dias atrás, um jovem motorista desatento – ou fazendo pouco caso do alheio, não sei – estragou alguns blocos que se encontravam empilhados numa calçada, numa rua próxima de onde moro. Bateu com o caminhão numa manobra imprudente. O morador, proprietário dos blocos, saiu na hora reclamando, querendo resolver o prejuízo que era evidente. O motorista, bem jovem, se mostrou insensato e sem nenhuma educação de berço: “Eu não vou pagar nada. Quem mandou você deixar os blocos na calçada?”. Aí, na maior tranquilidade, o proprietário pegou o telefone e chamou a polícia. Fotografou tudo de diversos ângulos. Enquanto esperava disse: “Quer dizer que se o meu filho estivesse na calçada você poderia matar o menino que estava certo, com a razão? E saiba de uma coisa: você pra mim é moleque, entendeu?”. E continuou debulhando um rosário de argumentos que me fez recordar do meu finado parente, primo da vovó Eugênia.

               Eu fui andando sem esperar pra ver a solução do caso. Mas pensei: “Outro Mané Bento, com tudo na ponta da língua, corrigindo gavião que se acostumou em revirar lixo”.

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