Garça na beira do rio (Arquivo JRS) |
A
história do mundo é uma infinidade de deslocamentos. Tudo se locomove buscando
as melhores adaptações; todos os animais fazem isso. Os homens também estão em permanente
busca por melhores lugares para a sua sobrevivência. É daí que vem os ajuntamentos
que originaram os povos diversos, as culturas tão diferentes entre si.
Os
caiçaras resultam dos sobreviventes de três grupos básicos: índios, portugueses
e negros. Neste lugar, entre a serra e o mar – um cercado natural! - conseguiram uma simbiose que firmou a cultura
caiçara. Aqueles que ultrapassaram a serra – “os de Serra Acima” são
denominados de caipiras.
Desde
os primórdios da história brasileira, caiçaras e caipiras mantiveram contatos
de toda espécie: comercializavam seus produtos, tinham festas em comum, se
davam em casamentos... Mas sempre se mantiveram em territórios distintos.
Porém, a partir do advento do turismo, a realidade do litoral (espaço caiçara)
se tornou um poderoso atrativo econômico, “lugar de ganhar dinheiro”. Assim, a
partir da metade do século XX, os caipiras vieram morar e trabalhar em Ubatuba, deixaram as suas lidas de campo (criar
animais, produzir queijos, fazer farinha de milho etc.) e se encaixaram nas
funções de serviço ao turismo.
Meu
avô Armiro, especialista em embaralhar as palavras para nos transmitir algo
mais profundo, deste jeito começou a prosa num dia chuvoso: “Os judeus pedem sinais, os gregos andam em
busca de sabedoria e os caipiras descem a serra doidos por dinheiro! É gente
boa essa caipirada, mas fazem de tudo para levar vantagem. São cismados, não se importam em
serem amigos de verdade”.
O
tempo passou...passou...passou... Outros grupos de retirantes chegaram ao
litoral, fugindo de condições ruins de sobrevivência, deixando suas raízes em
territórios distantes. Local de sobrevivência passou a ser sinônimo de lugar de
ganhar dinheiro.
Quando
a meta é ganhar dinheiro, o resto não tem muita importância. É por isso que se
verifica um aumento assustador das degradações ambientais (queimadas, invasões
de morros, apropriação de áreas públicas, devastação de mangues e gamboas, esgotos
nos rios etc.). Ou seja, muitos componentes dos diversos grupos que aqui
chegaram não têm uma relação afetiva com o ecossistema local, não desenvolveram
uma interdependência com a natureza que nos rodeia. Vieram para ganhar dinheiro, na ideia de "colônia de exploração" aprendida em História. Muitos do lugar também
traíram seu espírito original, engoliram a isca da “vida fácil é a vida que
importa”.
No
fim da vida, vovô Armiro dizia, após ver tantos estragos no nosso ambiente: “As épocas mudam os espíritos. O que hoje
muita gente tem como mérito, até bem pouco tempo era defeito, coisa que até era
pecado pensar. Quer a verdade? A verdade está na natureza!”.
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