segunda-feira, 1 de julho de 2013

ROGÉ




Foto
Procissão de São Pedro, tendo ao fundo o Casarão do Porto- junho/2013. (Foto: Valdirene Todão)

               
        Em tempo de importantes eventos culturais em Ubatuba, vem à lembrança a importância de uma fundação cultural. O texto que relanço hoje é uma prosa que eu tive com o Rogério Mesquita ("Rogé"), na época em que estava nascendo a Fundart (Criada pela Lei Municipal nº 893 de 25 de novembro de 1987, com sede no Casarão do Porto).

   O Rogério Mesquita, natural da Praia das Sete Fontes, era um andarilho caiçara; viveu como nômade pelas casas dos muitos parentes. Seu serviço preferido era vender peixe. Era esperto; tinha um olhar penetrante e analisava atentamente tudo.   "O  Rogé anda por todo canto, sabe um monte de coisa só de escutar”. Foi o que eu escutei da minha vó Eugênia. E o Rogé sabia mesmo!


                Certa vez, enquanto olhava para o mar, ele contou do “sobrado velho” (que eu nem dava muita atenção), porque era importante etc. Mais tarde eu fui pesquisar: ele se referia ao Casarão do Porto, antiga casa de Manoel Balthazar, na boca da barra do Rio Grande de Ubatuba. Hoje é parte da Fundart, mas desde 1959 foi tombado como patrimônio histórico e arquitetônico.
                De acordo com o Rogé, ele era moleque quando conheceu o lugar:

                “Naquele  lugá ali era o Hotel Boidapeste [Budapeste]. Gente mais velha dizia que aquela era a casa mais bonita da cidade. O primeiro dono foi um português que vendia e comprava;  dali despachava e arrecebia mercadoria. A língua do povo diz que o homi enricou com café ainda no tempo que o Brasil tinha imperadô –que aparece em livro com barba branca! 
         Esse portuga teve umas filha bonita pra perdê! Só que não era pra bico de pobre! Arrumaro marido, faiscaram daqui! Só uma ficô na nossa terra...mas terminô sua vida em Taubaté. A propósito, foi gente dessa cidade, o Guisado [Guisard] que mais tarde, adespois do tempo da revolução do Getulho [Getúlio], comprô  o velho prédio pros tempo de férias. Naquele trecho, entre a igreja e o sobrado, em tempo assim [de festa e de férias], ficava cheio de gente se tecendo. Era um tal de querê vê gente de fora e querê sê visto também! Tinha gente nova na cidade por um tempo: tanto no frio como no tempo quente. O boato que se dizia era que a maioria daquela gente era empregado do dono do sobrado. Agora, se acreditá no que disse o primo Zequita [José Alves Barreto], vão fazê não sei o que lá de curtura. Acho que o sobrado velho tá sobrando”.

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