segunda-feira, 8 de julho de 2013

JOSÉ ALMIRO

Rancho no jundu (Arquivo JRS)

        O mano Mingo, recordando da nossa família e da nossa infância na  Praia da Fortaleza, sempre está produzindo poesias. Esta, em memória do vovô e das redadas comunitária, faz parte do livro Peixe-palavra. 

Meu avô era rico
com três canoas veteranas
e uma rede de arrastar
curtida na casca da aroeira
pra não se estragar.
Uma vez por semana
tocava o búzio
chamando companhia
pra participar da pescaria.
A rede era arriada distante
algumas centenas de metros
e quando a canoa aportava,
homens, mulheres e crianças
puxavam os cabos.
Os mais velhos,
ao experimentar o peso da rede,
com antecedência
se riam ou se lamentavam.
Mas sempre tinha
peixes bons, estrelas do mar,
tartarugas,peixe-elétrico,
caranguejos,camarões,
baiacus para coçar a barriga
só pra vê-los indignados
encherem-se como balões.
Nós que éramos pequeninos
tínhamos a tarefa
de salvar os filhotinhos
devolvendo-os às ondas.
Ao fim do trabalho
procedia-se à partilha
da mistura para os próximos dias.
Todo dia de pescaria
era dia de maravilhar,
porque a rede sempre trazia
surpresas do fundo do mar. 

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