A
imagem de ontem, com Maneco Hilário, Alfredo Vieira, Antonio Athanásio e outros, mostrava um momento dos pescadores. O
local, onde hoje é a pista de skate, bem defronte ao aeroporto (o campo de
aviação de Ubatuba), abrigava os ranchos das canoas e redes dos caiçaras do
centro da cidade. Ali também ficavam os varais de bambus, onde as redes secavam
e recebiam reparos. Voltando à imagem, parece que o finado Maneco mostrava
alguma coisa lá para os lados do Morro da Ponta Grossa. Poderia ser sinais de
cardume grande, coisa a ser confirmada pelo espia (que era especialista em
avistar e calcular a quantidade de peixes que se aproximavam).
Tanto
onde nasci (Praia do Sapê) como onde morei (Praias da Fortaleza e do
Perequê-mirim), a redada era semanal. O meu avô Armiro, juntamente com o tio Genésio,
tinham uma rede grande que a cada sete dias estava na água. Os camaradas, ao
ouvir o “toque do buzo” bem antes do amanhecer, se dirigiam à praia. Logo as
canoas rolavam até o lagamar, pois a rede vivia embarcada, sobretudo em tempo
de tainha. Um cabo ficava na praia bem seguro por alguém; a canoa grande saia
desovando a tralha de cortiças e a tralha de chumbeiros, depois retornava à
praia para, morosamente, a rede fechar os peixes contra a areia.
Olhando
de cima, a rede formava um desenho de circunferência cortada ao meio. Era
quando o mestre da rede, depois de pedir que os camaradas sustentassem a tralha
das cortiças bem levantadas, adentrava no lanço para fazer o ensacador. Alguns
peixes conseguiam saltar assim mesmo. Se tivesse algum peixe grande capaz de
rasgar partes das malhas, aí mais escapavam pelos furos. Mas assim que a rede ia
ganhando o lagamar, nós, crianças ainda, capturávamos aqueles graúdos que se
debatiam na lâmina d’água.
Era
bonito ver os grandes balaios serem enchidos por cações, embetaras, corvinas,
palombetas, obebas etc. Muitas das vezes
bastava um só lanço. Depois de tudo novamente embarcado, as canoas seguiam para
seus abrigos. Era a hora de repartir o produto. Os balaios eram virados, os
peixes separados por espécies e tamanhos. Dos quinhões feitos, um terço ficava
para o dono da rede. Quando havia espia, este recebia dois quinhões. Os demais
camaradas tinham direito a um quinhão
cada. Na verdade, ninguém deixava de
receber peixe. Até as crianças, que se divertiam com toda a movimentação, saiam
com as mãos carregadas de peixes. Logo tudo aquilo era consertado (limpo) no
rio. Sempre tinha uma parte que era preparada para ser salgada e secada ao sol.
À
tarde, passando perto dos ranchos das canoas, as redes estavam secando nos
varais ou sobre a vegetação rasteira do começo do jundu. Um ou dois dos
pescadores consertavam as malhas avariadas, pois no dia seguinte poderia
aparecer uma nova oportunidade de boa pescaria. Era a vida dos moradores da
beira do mar, num tempo em que apareciam os primeiros turistas.
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