terça-feira, 15 de janeiro de 2013

DOENÇA FEIA





Do meu lugar, bem desta cadeira, olhando na estante em frente, tenho diversas coisas (cd de música, livro, dobradura etc.). Destas coisas, especialmente hoje, duas me despertam para este texto: um livro da Fernanda Liberal e um conjunto de músicas gravadas por Pedro Paulo e Paulinho da flauta, o saudoso companheiro da amiga Nalva. Mas por que digo isto?
                O motivo de lembrá-los é o seguinte: Paulinho e Fernanda nos deixaram recentemente devido ao câncer,  a “doença feia” dos caiçaras. Esclareço: ninguém, antigamente, ousava dizer tal nome porque acreditavam que a palavra tinha uma força por si só. Então, Dizê-la era atrair o seu conteúdo, a sua energia. Nesta crença, não se chamava ninguém de louco, de bobo, de capeta etc.
Pelo pouco que pude conhecer de ambos, eles amaram esta cidade de Ubatuba. Fizeram questão de deixar as suas marcas: a sonoridade, a música de qualidade magistralmente executada por Paulo em sua flauta; os textos habilmente pensados, com uma função bem delineada pela Fernanda.
                Foi câncer! Apesar de tantas lutas, esta doença continua ceifando vidas!
                A morte chega sem pedir licença. As pessoas se vão. O que não passa é o nosso compromisso com a vida. É nisto que  muitas pessoas vão se eternizando!
                Pela musicalidade e pelas considerações textuais, estes  dois – Paulinho e Fernanda – fazem parte daquelas pessoas que, despretensiosamente, deixaram as suas pegadas para nós e para as futuras gerações. Ou seja, vieram à realidade ubatubana para se aculturarem e viverem encantados pela natureza que nos cerca. Deram suas contribuições recorrendo aos seus dotes artísticos; fizeram o que lhes cabiam para expressar suas experiências e seus desconfortos pelos ultrajes que muitos praticam simplesmente pelo excesso de cobiça, do lucro a qualquer custo.
                Neste ano novo de velhos problemas, diante de cada momento, de cada fato revoltante neste nosso lugar, mas também de todas as alegrias que esperamos viver, imaginemos mais estes dois (Fernanda e Paulinho), que nos deixaram, como aliados concretos. Eles  estarão presentes como sempre foram: sendo solidários, apoiadores e incentivadores de ações para a preservação de coisas maravilhosas, tanto aos presentes como para os que ainda estão por  chegar e serem acolhidos pela cultura caiçara, pela natureza circundante. Que seus descendentes não façam menos, caso não consigam superá-los. Tenhamos sempre na memória pessoas assim como faróis a nos guiar!
                A chuva que agora cai é destempero para as lágrimas daqueles que sentem a saudade de pessoas de paz, mas que fizeram guerras contra o mal e as maldades.
Força aos vivos! E assim... à terra, ao implacável pó retornam os Filhos da Terra!

Um comentário:

  1. Olá, caro amigo Zé,
    Obrigado por esse belíssimo texto, que, além de ser uma justa homenagem à nossa querida amiga Fernanda e ao Paulinho, é um estímulo à reflexão. Que você continue iluminado para nos brindar com pérolas desse quilate!
    Um forte abraço!

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