Do meu lugar,
bem desta cadeira, olhando na estante em frente, tenho diversas coisas (cd de
música, livro, dobradura etc.). Destas coisas, especialmente hoje, duas me
despertam para este texto: um livro da Fernanda Liberal e um conjunto de
músicas gravadas por Pedro Paulo e Paulinho da flauta, o saudoso companheiro da
amiga Nalva. Mas por que digo isto?
O
motivo de lembrá-los é o seguinte: Paulinho e Fernanda nos deixaram recentemente
devido ao câncer, a “doença feia” dos
caiçaras. Esclareço: ninguém, antigamente, ousava dizer tal nome porque
acreditavam que a palavra tinha uma força por si só. Então, Dizê-la era atrair
o seu conteúdo, a sua energia. Nesta crença, não se chamava ninguém de louco,
de bobo, de capeta etc.
Pelo pouco que
pude conhecer de ambos, eles amaram esta cidade de Ubatuba. Fizeram questão de
deixar as suas marcas: a sonoridade, a música de qualidade magistralmente
executada por Paulo em sua flauta; os textos habilmente pensados, com uma
função bem delineada pela Fernanda.
Foi
câncer! Apesar de tantas lutas, esta doença continua ceifando vidas!
A
morte chega sem pedir licença. As pessoas se vão. O que não passa é o nosso
compromisso com a vida. É nisto que
muitas pessoas vão se eternizando!
Pela
musicalidade e pelas considerações textuais, estes dois – Paulinho e Fernanda – fazem parte daquelas
pessoas que, despretensiosamente, deixaram as suas pegadas para nós e para as
futuras gerações. Ou seja, vieram à realidade ubatubana para se aculturarem e
viverem encantados pela natureza que nos cerca. Deram suas contribuições recorrendo
aos seus dotes artísticos; fizeram o que lhes cabiam para expressar suas
experiências e seus desconfortos pelos ultrajes que muitos praticam
simplesmente pelo excesso de cobiça, do lucro a qualquer custo.
Neste
ano novo de velhos problemas, diante de cada momento, de cada fato revoltante
neste nosso lugar, mas também de todas as alegrias que esperamos viver, imaginemos
mais estes dois (Fernanda e Paulinho), que nos deixaram, como aliados
concretos. Eles estarão presentes como
sempre foram: sendo solidários, apoiadores e incentivadores de ações para a
preservação de coisas maravilhosas, tanto aos presentes como para os que ainda
estão por chegar e serem acolhidos pela
cultura caiçara, pela natureza circundante. Que seus descendentes não façam
menos, caso não consigam superá-los. Tenhamos sempre na memória pessoas assim como
faróis a nos guiar!
A
chuva que agora cai é destempero para as lágrimas daqueles que sentem a saudade
de pessoas de paz, mas que fizeram guerras contra o mal e as maldades.
Força aos
vivos! E assim... à terra, ao implacável pó retornam os Filhos da Terra!
Olá, caro amigo Zé,
ResponderExcluirObrigado por esse belíssimo texto, que, além de ser uma justa homenagem à nossa querida amiga Fernanda e ao Paulinho, é um estímulo à reflexão. Que você continue iluminado para nos brindar com pérolas desse quilate!
Um forte abraço!