Finalmente eu consegui acessar a internet. Que sufoco! Eu não poderia de deixar de lado este texto do Júlio escrito justamente do dia do fim do mundo. E não valeu a arte na concha de marisco - o troféu do Jaür?
Pra
quem não sabe o que é um jangolengo, eu digo: é o tié-sangue do
mar. Peixe de vermelho intenso, tal qual o vermelho do tié. Vivem em cardumes
nos parcéis, costeiras de ilhas e lajes de mar. Chega atingir 30 cm de
comprimento. O bicho é esfomeado por natureza e para pescá-lo não se faz muito
esforço; basta um anzol com uma imitação de isca (isopor, elástico, plástico) ou mesmo uma isca artificial, tipo garatéia. É jogar ao mar e fazer a curricada.
Quantos anzóis tiverem, quantos serão os peixes fisgados; enche-se um balaio em
poucos minutos.
Alguns
pescadores, mais fantasiosos do que pescadores propriamente dito, inventaram
um torneio de pesca: “Pesca ao jangolengo”. Quem pescasse mais, em meia hora,
ganhava um troféu e não pagava a cerveja e nem a churrascada.
Local
marcado do torneio: na Lage Grande da baía de Ubatumirim, águas do mar de Ubatuba,
aconteceu o primeiro torneio de pesca ao jangolengo. Pescadores a postos deram
inicio ao torneio. Dentre os grandes pescadores de currico estava o primo Jaür
Carpinetti que, com toda sua logística e estrutura pesqueira, era o favorito. Com
sua molinete e vara de fibra de carbono, isca artificial alemã e linha de fibra
óptica, iniciou sua pescaria. Joga pra cá, joga pra lá, currica à bombordo, à
estibordo... e nada. Já se passava 15 minutos, e enquanto os adversários enchiam
o balaio com jangolengo, Jaür Capinetti só dava banho nas iscas. E o tempo ia
passando. Trocava isca artificial por isca natural, colocava chumbada pra
tentar pescar de fundo, e nada... O que estava acontecendo? Nunca foi de perder
uma pescaria! Notou então que suas mãos estavam com cheiro de certo perfume;
lembrou então que ao sair de casa se lambuzou com repelente contra borrachudo;
foi a conta, o cheiro do produto repelia também os jangolengos. Fazer o que
naquelas alturas do campeonato? Enquanto os adversários já contavam com mais de
trezentos jagolengo pescado, o primo Jaür estava zerado e seria ele a pagar a
cachaçada para os demais competidores. Restava uma saída para não ficar pagão e
com a lanterna na mão. Limpou bem as mãos, passou a mão no saco, tirando uma
salsicha do pão, iscou num anzolão e jogou ao mar de fundo. Pensou: perdido por
perdido pelo menos tentaria, com a isca de salsicha, ferrar um garopão pra
fazer um pirão com banana verde. Assim fez. Faltava poucos minutos para
terminar o torneio. A isca mal chegou ao fundo, o bicho pegou em sua linha.
–Minha Nossa Senhora! Gritou bem alto e falou aos adversários: -Se não for a
poita de meu barco é um peixe muito grande! E puxa daqui, puxa dali, geme,
peida,... até que o peixe aparece na flor d’água. Era um jangolengão do tamanho
do capô de um fusca vermelho, de no mínimo cento e cinquenta quilos. Com a ajuda
dos pescadores colocaram o peixão pra dentro de seu barco (a lancha Princesa).
Momentaneamente, embora ter pescado o maior peixe, tinha pego apenas um; seria ele quem pagaria a bebedeira. Mas a surpresa apareceu no caminho de volta
da pescaria. Com o balanço do mar e o tranco do barco nas marolas, o
jangolengão começou a ter enjoo e passou a vomitar. O vômito do jangolengão era
só jangolengo de tamanho natural. Foram contados 958 jangolengos que sairam da
barriga do grandão.
De
lanterna, Jaür Carpinetti passou a ser o grande campeão do torneio “Pesca ao
Jangolengo” e quem pagou a conta da cervejada foi o Guelinho da bicicletaria.
Taí
o troféu e o Paulo Ramos para confirmar a história.
Julinho Mendes – Ubatuba, 21/12/12 (dia do fim do
mundo)
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