“Todo cais é uma saudade de pedra!” – Fernando Pessoa.
O cais da baía de Ubatuba, o “Caisão”, é um espaço privilegiado, mas vai perdendo a sua vitalidade por descaso das autoridades eleitas democraticamente ao longo das décadas. Também nós temos a nossa parcela de culpa por nos omitirmos nas questões tão evidentes. Infelizmente não temos o hábito de exercer a cidadania no pleno sentido do termo.
A história do “Caisão”, nas terras do Velho Barroso, oficialmente começa no final do século XIX quando, nos estertores do Segundo Reinado, foi decidida a construção de uma ferrovia, cujos extremos seriam as cidades de Ubatuba e São Bento do Sapucaí, passando por Taubaté. Ou seja, para escoar a produção da região mineira da Mantiqueira e do Vale do Paraíba. Mas então veio a proclamação da República e o golpe nos empreendedores, em função do grupo político local ter sido favorável à Revolta da Armada (uma tentativa de retornar à monarquia).
Findo o sonho da ferrovia, outra crise persiste até meados da década de 1950 (quando os turistas descobrem nossas belezas naturais). Desta época vem outra função para o “Caisão”: serventia de descarga de peixes. O governo do Estado faz instalações (fábrica de gelo e centro de pesquisa) para atender a demanda. Caminhões-frigoríficos e barcos dão o ritmo ao local.
Grandes barcos, principalmente os sardinheiros, ocupam todo o espaço disponível. Os jovens ubatubanos têm um sonho: ser embarcadistas para ajuntar dinheiro. O meu padrinho Tobias, por exemplo, viveu anos na pesca de baleias. Nesse tempo as salgas (Igawa, Gitano, Aurichio, Caetano etc.) se instalaram por aqui. Eram novas frentes de trabalho a partir daquilo que abundava: pescados. Isso mudou na segunda metade da década de 1970, quando a SUDELPA (Superintendência para o desenvolvimento do litoral paulista) construiu o píer da praia do Saco da Ribeira, deslocando as embarcações para aquele lugar. Tudo foi definhando, inclusive a nossa fonte de apetitosas sardinhas.
O “Caisão” abandonado passou a ser um espaço de pesca artesanal. Era comum, logo ao anoitecer, as pessoas irem chegando com seus equipamentos, cadeiras e lanches para se realizarem em repousantes pescarias pela noite adentro, tendo como suporte, caso precisasse, a casa do Acary e da dona Mariquinha. Durante o dia, o lugar tornou-se ponto de diversão dos adolescentes. Que ótimo trampolim de mergulho”!
Para encurtar a prosa, no ano 2000, o prefeito Paulo Ramos, tendo como urbanista o arquiteto caiçara Sidney Giraud, deu um novo visual ao espaço, desde o Instituto de Pesca até o Farol, na Barra dos Pescadores. Ficou bonito, agradável de percorrer e de apresentar o lugar como mais um Cartão Postal do município. E aí... então... novos mercenários despontaram além da Ponta Grossa, ocuparam as cadeiras no Legislativo e no Executivo. Um dos resultados do dinheiro público gasto com irresponsabilidade foi o abandono daquilo que poderíamos chamar de Moldura de Yperoig.
Agora, vamos cobrar do prefeito Maurício Moromizato a retomada da tarefa. A Baía de Ubatuba é linda! Deve ganhar segurança, continuar linda e ser recuperada parte de sua pureza original para as futuras gerações. Nós a merecemos!
Está em minhas mãos um presente do amigo Jorge. trata-se do livro de Glória Kok: Uma fazenda inglesa no universo caiçara. Valeu mesmo!
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