João Teixeira Leite, o nosso pintor primitivista (Arquivo Júlio). |
Certamente
que, em qualquer oportunidade que tivermos, devemos ensinar ou relembrar a
nossa história de caiçaras. Mesmo que num futuro houvesse somente estrangeiros,
eles não deveriam desconhecer os hábitos e conhecimentos dos que aqui viveram a
partir da chegada dos portugueses, da miscigenação com os demais europeus, negros
e índios. Afinal, o futuro sempre terá uma dívida com as outras etapas
temporais da existência. Por isso, trata-se de mentes muito pequenas aquelas
que desmerecem as manifestações culturais herdadas dos mais antigos. Faz-me
lembrar da amiga Sara: há vinte anos, assim que chegou na Escócia para o
doutorado, me enviou uma fotografia de um desfile cívico na cidade onde se
instalou. “É como se eu estivesse no Sertão do Puruba, Zé! Sabe a apresentação
de congada do Dito Fernandes? É a mesma coisa! Fiquei impressionada como a
multidão admira as manifestações populares, como aplaudem! Os que estão
dançando (ou desfilando?) até estufam o peito de tanto orgulho”. Neste raciocínio,
os arqueólogos ainda têm muito a contribuir para nos ajudar na compreensão dos
moradores mais antigos deste território ubatubano. É uma pena que os nossos
museus sejam tão desprezados, deixem de serem locais de “pistas ótimas” para
novos passos na arqueologia local. Temos notícias de grutas fantásticas em
nossas matas, os sambaquis permanecem nas restingas que ainda resistem à
ocupação imobiliária e as lendas podem estar dizendo muito mais do que ouvimos.
Ainda temos um ambiente natural que permite alargar horizontes. Ainda bem!
Os
moradores do presente e do futuro precisam entender como a cidade se fez e
porque os causos, lendas etc. acompanharam a história local. Assim o Gilberto
Chieus, se referindo à crise econômica da passagem do século XIX para o XX,
acrescentou à sua pesquisa etnomatemática:
“Podemos observar
que, durante o período da decadência da cidade, muitos caiçaras transferiram-se
para Santos, à procura de uma vida mais próspera. Ficaram em Ubatuba os
caiçaras pobres, que conseguiram sobreviver às turbulências, ficando isolados entre
a Serra do Mar e o Oceano Atlântico.
Com o isolamento,
eles desenvolveram uma agricultura de subsistência. Comercializavam apenas o
excedente para obter bens de consumo que não tinham como produzir (sal,
querosene, pólvora e vestuários).
Entre as culturas
mais comuns nas lavouras caiçaras, destacavam-se as de mandioca para a
confecção de farinha, milho, banana, feijão. Além disso, possuíam algumas
criações domésticas.
Os caiçaras não
viviam apenas de lavoura, mas serviam-se da pesca como complementação
alimentar, pois na entressafra da lavoura, havia a safra do peixe e vice-versa.
Um exemplo é a pesca da tainha, peixe que se aproxima da praia no inverno entre
os meses de maio a julho, fazendo com que a comunidade caiçara se reúna na
praia para a captura”.
Acrescento
as festas como sendo fundamentais no avivamento das esperanças pessoais e
coletivas. Por isso eu insisto para um direcionamento educacional, a partir das
escolas, com a finalidade de recuperar as festividades que eram tão comuns
neste lugar (Ubatuba). Até pergunto às gerações mais novas:
Por que as lindas
festas juninas em nossas escolas não acontecem
mais? Quem conhece os nossos artistas caiçaras? Quem já refletiu a nossa cultura e a nossa cidade a partir das pinturas primitivistas do João?
Olá, José Ronaldo!
ResponderExcluirGostei muito dos seus escritos. Passei uns dias na Lagoinha e explorei um pouco as redondezas, Bonete e Caçandoca, além da mata em frente à praia.
Faço pesquisa de folclore e gostaria de um contato seu para eventuais informações sobre a sua região.
Falei muito com dona Lourdes do restaurante do Bonete, a que faz a consertada, o seu Benedito, que canta a folia de reis e tbm a Maria de Lourdes que mora na Estufa 2, mas penso em voltar e descobrir um pouco mais.
Meu email é: chico.abelha@hotmail.com
Meu blog, onde escrevo é: http://chicoabelha.wordpress.com/
Meu facebook: https://www.facebook.com/chicoabelha
Grande abraço e parabéns pelo trabalho, bem escrito, simples e divertido.
Francisco José Lacaz Ruiz