A nossa turma da apicultura não pode nunca ficar sem chapéu! |
Houve
um tempo em que o chapéu, esse produto cultural tão antigo, era indispensável
para se sair de casa. De dia ele nos protegia das chuvas finas e dos raios
solares, “para não esquentar os miolos”; nas noites a proteção era contra o
sereno, a friagem natural que podia deixar resfriado, “capaz de ficar
constipado”.
A
produção de chapéu era artesanal, com as mulheres se esmerando entre palhas de
junco, de brejauba, de bananeira e outras matérias-primas do nosso entorno. Não
era incomum avistar, geralmente nas salas das casas, as “bolas de tranças”.
As
tranças eram feitas a partir de material devidamente preparado, ocupando os
momentos de descontração, enquanto proseavam. Depois era só costurar as bordas,
no sentido de dentro para fora, usando fios resistentes, de preferência os de
tucum que davam um perfeito acabamento.
De
acordo com a tia Maria Mesquita, fazer tranças para vender nos barcos de
cabotagem era uma alternativa econômica:
“Rendia um dinheirinho que permitia a gente comprar cortes de fazenda para as
roupinhas das crianças, para fazer vestidos”.
Homens
e mulheres saíam pelos matos coletando, principalmente as palmas novas de
brejauba. Se precavendo contra as cobras peçonhentas, os caiçaras esfregavam
alho nos braços e nas pernas. Depois murchavam a palhada no terreiro, de
preferência sobre pedras, e, mão à obra. Um recurso para manter o chapéu no tom
amarelo vivo era abafá-lo no enxofre queimado. Quanto charme num desses chapéus!
Interessante
era ver as pessoas tirarem suas coberturas ao se cumprimentarem, ao pedirem ou
darem suas bênçãos ou simplesmente para mostrarem suas cabeleiras bem arrumadas
e devidamente mantidas pelos chapéus. Nas igrejas ninguém entrava de chapéu na
cabeça.
O
filósofo Jean-Paul Sartre escreveu este detalhe a respeito de outra utilidade
do chapéu: “Você botava as madeixas dentro da copa e já nem se sabia se ainda
tinha cabelos”.
Na
cidade vizinha de São Luiz do Paraitinga existe o Rio do Chapéu. De acordo com
os relatos de cronistas de outros tempos, ali funcionava a famosa Fábrica de
Chapéus, de onde descia regularmente uma tropa de burros com seus produtos a
serem escoados pelo porto de Ubatuba. Essa tropa chamava a atenção pelo tom claro
que se destacava de longe entre o verdor da mata, na nossa Mata Atlântica. Era
a “Tropa branca”.
Agora
é a vez dos bonés.
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