Mesmo caída essa árvore ainda nos faz recordar de histórias. |
Em véspera de Natal, recordando de tanta
gente boa que já passou pela minha vida e querendo partilhar as minhas
anotações com os parentes e outros muitos amigos da atualidade, ofereço uma
passagem que bem poderia ter acontecido em torno de uma refeição, logo após a
Cantoria de Reis no presépio de qualquer lar caiçara, num tempo onde o espírito
de solidariedade era a salvação da miséria.
Os
caiçaras hoje em dia não são muitos, mas ainda se encontram para ativar as
recordações de outro tempo, onde havia mais proximidade e afinidades entre os
moradores desse pedaço de chão ubatubano. Em tais ocasiões muitos nomes e
lugares são lembrados. O finado parente Benedito Cláudio, o "Bito“Crode”,
um notório contador de causos, também afeito a mentir descaradamente,
dificilmente escapa dessas reminiscências.
Às
vezes nem sei se já contei tal ou tal causo. Hoje, mexendo nuns papéis,
encontrei anotações que me deixam em dúvidas. Perdoem-me pela falha, mas aí
vai!
Numa
noite dessas, numa roda de causos, o tio Salvador elencou uma série de
situações vivenciadas com o Bito Crode. Uma delas foi na Ponta dos Cações,
entre as praias da Domingas Dias e Dura, quando eles arrastavam puçá em busca
de camarão para servir de isca. Era começo de primavera: época de pesca de
carapau, um peixe muito cobiçado por nós. Nesse tempo, ou melhor, na ocasião, o
mentiroso estava pensando em se converter à religião dos “crentes” da
Congregação Cristã no Brasil, cuja sede era na Praia do Lázaro, mas acabara de
abrir uma filial na Praia Brava da Fortaleza, por volta de 1960. Pretendendo se
justificar aos outros companheiros de
pescaria, todos católicos, ele disse:
- Li na Bíblia
que “os mentirosos não entrarão no Reino de Deus”.
Ao perceber
que os outros esboçaram risos, devido ao seu talento (e vício!) de mentir
demais, ele rapidamente acrescentou:
-
Também está gravado na Escritura Sagrada, num pedaço mais pra frente, que “serão
bem-aventurados aqueles que perdoarem os mentirosos”.
Nesse
momento, aí sim, todos riram ao perceberem a alternativa pensada tão depressa
para aliviar a condição do mentiroso.
Ah,
o Bito Crode!
Desejo a todos:
Um feliz Natal, boas festas e... muita
criatividade, resistência e carinho para romper o próximo ano!
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