quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

NOUTROS TEMPOS

A ilha do Mar Virado que deu sustento a muitos caiçaras.


                Eu não alcancei muitas das coisas de que falavam os mais antigos caiçaras. Um exemplo é acerca das baleias jubartes que abundavam nossos largos em determinada época do ano.
                Apesar de serem baleias mansas, os pescadores temiam serem virados em suas canoas pelos enormes cetáceos. Afinal, “era em demasia, se tecendo por todo lado”, conforme o dizer da tia Maria Mesquita, esposa do tio Genésio, ambos naturais da praia da Fortaleza. São falecidos há décadas. 
                Creio que já contei do tempo em que as pessoas da praia da Fortaleza plantavam na ilha do Mar Virado. O motivo era as saúvas que devastavam tudo no continente. Então, a solução encontrada, desde outros tempos mais antigos, foi cultivar naquele lugar que apresenta sinais de ocupação humana de, pelo menos, dois mil anos, conforme pesquisa recente. Imagine a epopeia da travessia em pequenas canoas num trecho de mar onde, folgadamente, as jubartes se deliciavam nas brincadeiras!
                Hoje a praia da Fortaleza, de onde saíam os roceiros-pescadores em direção ao Mar Virado, é praticamente deserta de caiçaras. E as jubartes pertencem a outro tempo. Das lembranças  nasceu a poesia do Mingo:

                OS OLHOS TRISTES DO JUBARTE

                Os padrinhos da tia Maria
                estavam pescando
                no canto do Cambiá
                quando emergiu o jubarte
                coladinho com a canoa
                e quase matou o homem de susto
                ao ver-se refletido
                nos olhos imensos
                do mamífero gigante,
                de inexplicável tristeza,
                parecendo antever o futuro
                dos caiçaras da Fortaleza.

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