A ilha do Mar Virado que deu sustento a muitos caiçaras. |
Eu
não alcancei muitas das coisas de que falavam os mais antigos caiçaras. Um
exemplo é acerca das baleias jubartes que abundavam nossos largos em determinada
época do ano.
Apesar
de serem baleias mansas, os pescadores temiam serem virados em suas canoas pelos enormes cetáceos.
Afinal, “era em demasia, se tecendo por todo lado”, conforme o dizer da tia
Maria Mesquita, esposa do tio Genésio, ambos naturais da praia da Fortaleza. São falecidos há décadas.
Creio
que já contei do tempo em que as pessoas da praia da Fortaleza plantavam na
ilha do Mar Virado. O motivo era as saúvas que devastavam tudo no continente.
Então, a solução encontrada, desde outros tempos mais antigos, foi cultivar naquele lugar que apresenta sinais de ocupação humana de, pelo menos, dois mil anos,
conforme pesquisa recente. Imagine a epopeia da travessia em pequenas canoas
num trecho de mar onde, folgadamente, as jubartes se deliciavam nas brincadeiras!
Hoje
a praia da Fortaleza, de onde saíam os roceiros-pescadores em direção ao Mar
Virado, é praticamente deserta de caiçaras. E as jubartes pertencem a outro
tempo. Das lembranças nasceu a poesia do Mingo:
OS
OLHOS TRISTES DO JUBARTE
Os padrinhos da tia Maria
estavam pescando
no canto do Cambiá
quando emergiu o jubarte
coladinho com a canoa
e quase matou o homem de susto
ao ver-se refletido
nos olhos imensos
do mamífero gigante,
de inexplicável tristeza,
parecendo antever o futuro
dos caiçaras da Fortaleza.
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